Economia

Depois dos Tigres Asiáticos, vem aí as Pumas do Pacífico

Quarteto de países latino-americanos da "Aliança do Pacífico" estão se dando bem por não terem medo da globalização, diz relatório da Bertelsmann Foundation


	Onça suçuarana, a "Puma"
 (Wikimedia Commons)

Onça suçuarana, a "Puma" (Wikimedia Commons)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 2 de maio de 2015 às 07h08.

São Paulo - "Um animal poderoso, rápido, ágil, esguio e furtivo". Esta é a puma ("suçuarana" em português), mas o rótulo vale também para quatro economias latinas: México, Colômbia, Peru e Chile.

Elas são um "modelo emergente para mercados emergentes", de acordo com um relatório lançado esta semana pelo braço norte-americano da fundação alemã Bertelsmann.

As quatro economias citadas reúnem 216 milhões de pessoas, um PIB de 2,2 trilhões de dólares e metade do comércio da América Latina.

Todas estão no top 6 da região nos rankings de competitividade, facilidade de fazer negócios e menor risco macroeconômico (o Chile é 1º lugar nos três). O quarteto também forma desde junho de 2012 um bloco próprio e oficial: "a Aliança do Pacífico"

A inflação não supera 5% anuais em nenhuma das Pumas desde o México em 2009, com a média ficando por volta de metade disso. Desde a crise financeira, as reservas acumuladas já subiram cerca de 80% e todos tem dívidas com grau de investimento.

Em alguns aspectos, o México é ponto fora da curva. O país tem uma notória dificuldade de arrecadação, o que complica sua situação fiscal, e esteve constantemente abaixo dos outros Pumas nos últimos anos em termos de crescimento e redução da pobreza.

Mas o México também se destaca por exportar mais em manufaturas do que todo o resto da América Latina combinada, graças a um custo mais em conta até do que na China (resultado também de salários baixos para trabalhadores, diga-se de passagem).

As 4 pumas tem livre comércio com os Estados Unidos e a União Europeia, mas o México tem 44 acordos do tipo - o dobro da China e 4 vezes mais do que o Brasil. 

É o foco na globalização, aliás, que aproxima o bloco das Pumas dos Tigres Asiáticos, e de duas maneiras: elas emulam "uma estratégia que se provou bem-sucedida na Ásia Oriental para se integrar mais plenamente à própria Ásia Oriental", diz o relatório.

Desafios

A Aliança do Pacífico já foi classificada pelo ex-ministro das Relações Exteriores brasileiro Antônio Patriota como "um êxito de marketing", e do ponto de vista do comércio, ele tem um ponto: até 2012, nem México nem Chile nem Peru listavam um outro puma entre seus principais parceiros comerciais.

Apesar de avanços, o quarteto também está longe de ter resolvido suas questões com democracia, violência e corrupção. Os exemplos abundam, como o caso do filho da presidente Michele Bachelet no Chile, o impasse nas negociações de paz com a Farc na Colômbia e o fracasso da guerra às drogas no México. 

As pumas também não resolveram ainda o antigo desafio latino-americano da diversificação. Em 2012, mais de três quartos das exportações da UE para pumas foi de máquinas e manufaturados, enquanto mais de três quartos das exportações peruanas e colombianas na outra direção foram de minerais, animais e materiais. 

A desaceleração econômica chegou antes e é mais profunda no Brasil, mas toda a América Latina está sofrendo com a queda dos preços das commodities, e é incerto que as pumas vão continuar brilhando neste novo cenário. Se quiserem realmente se tornar países desenvolvidos, elas terão que contar não só com agilidade mas também com uma boa mudança de dieta.

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