Chineses aguardam em fila de ônibus em Pequim (Kevin Frayer/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 4 de agosto de 2021 às 21h18.
O surto de Covid-19 mais amplo da China desde o início da pandemia no fim de 2019 afeta o turismo e os gastos durante o pico das férias de verão, o que leva analistas a revisarem projeções de crescimento econômico diante dos maiores riscos.
Autoridades fecharam locais turísticos, cancelaram eventos culturais e cancelaram voos devido ao surto associado à variante delta que se espalhou por quase metade das 32 províncias da China em apenas duas semanas. Pelo menos 46 cidades recomendaram que residentes evitem viajar, a menos que seja absolutamente necessário.
Juntamente com os danos causados pelas inundações em algumas partes do país, os controles para frear o coronavírus devem limitar os gastos do varejo e o crescimento econômico no segundo semestre.
A Nomura Holdings reduziu sua projeção de crescimento para o terceiro trimestre de 6,4% para 5,1% e vê expansão de 4,4% nos últimos três meses do ano em relação à estimativa anterior de 5,3%. Para 2021, a Nomura cortou a previsão de expansão do PIB de 8,9% para 8,2%.
“As medidas draconianas tomadas pelo governo estão levando às proibições de viagens e lockdowns potencialmente mais rigorosos na China desde a primavera de 2020”, disse Lu Ting, economista-chefe da Nomura para a China. “As recentes chuvas e inundações - ambas piores do que o esperado - também exigem um ajuste para baixo em nossas projeções de crescimento do PIB para o terceiro trimestre.”
O Goldman Sachs disse que o possível impacto sobre o crescimento econômico do terceiro trimestre pode ser de 0,7 ponto percentual, embora não tenha reduzido a previsão de expansão de 6,2% para o trimestre, dizendo que há incertezas sobre a duração do surto e que o governo pode fornecer mais apoio. Bloomberg Economics e Natwest também veem riscos de baixa para suas previsões de crescimento.
Embora a China tenha enfrentado surtos esporádicos de Covid-19 no último ano, foram muito menores em escopo e contidos rapidamente. O surto atual fechou todos os locais turísticos em Zhangjiajie, um famoso destino na região central da China. Outras cidades nas províncias de Hunan, Jiangsu e Shanxi também fecharam pontos turísticos.
Companhias aéreas reservaram 9,8% menos capacidade de assentos na China nesta semana do que no período anterior, a segunda queda consecutiva com base em dados da consultoria OAG. A capacidade atual corresponde a 95,7% dos níveis de 2019. É a primeira vez em cinco semanas que as operadoras oferecem menos assentos no país do que no período comparável pré-pandemia.
O site de reservas de viagens Qunar.com disse que o número de cancelamentos de voos e hotéis em 29 de julho agora é quatro vezes maior do que em dias normais, e as consultas de clientes também são o triplo do volume típico.
“O crescimento dos salários dos residentes já era lento e, se não puderem gastar devido ao surto, certamente será um entrave ao consumo no segundo semestre do ano”, disse Bruce Pang, chefe de pesquisa macro e estratégia da China Renaissance Securities Hong Kong.
O surto atual pesa sobre a frágil recuperação das vendas no varejo e acrescenta uma série de riscos que analistas já esperam para o segundo semestre, como a desaceleração das exportações e menores investimentos no setor imobiliário e infraestrutura.
Pesquisas com gerentes de compras em julho mostram o setor de manufatura sob pressão no mês. E, embora o índice de gerentes de compras do setor de serviços medido pelo Caixin tenha registrado forte recuperação em relação a mínima de 14 meses em junho - em grande parte porque um surto na província de Guangdong, no sul do país, foi controlado -, as perspectivas continuam sombrias.
Os indicadores “sugerem que a recuperação econômica não está em uma base segura”, disse Wang Zhe, economista sênior do Caixin Insight Group, em comunicado na quarta-feira. “A economia ainda enfrenta enorme pressão de baixa.”
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