Economia

Delfim Netto: Corte no compulsório levará a queda no spread

Ex-ministro da Fazenda acredita que os bancos irão repassar a queda aos clientes, mas a redução será pequena


	Delfim Netto: ‘Na minha opinião será transferido sim, mas será uma redução infinitesimal do spread”, disse
 (Wikimedia Commons/EXAME.com)

Delfim Netto: ‘Na minha opinião será transferido sim, mas será uma redução infinitesimal do spread”, disse (Wikimedia Commons/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2012 às 16h30.

São Paulo * - A redução do compulsório, anunciada na última sexta-feira, é uma redução dos impostos sobre os bancos, segundo Antônio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda. Para Delfim Netto, a medida vai permitir uma melhoria na relação entre bancos e setor privado e até redução dos spreads. “É mais um passo na redução da tributação”, disse.

O ex-ministro acredita que os bancos não vão absorver como lucros essa redução, mas que vão repassar muito pouco disso, refletindo numa redução que chamou de "infinitesimal" (tão pequena que é difícil ser medida) do spread. “Eles estão reduzindo também a tributação do sistema bancário, é mais um passo na redução da tributação”, disse Delfim Netto. A medida deve facilitar a transferência de crédito entre os bancos, segundo o ex-ministro. 

Na sexta-feira, o Banco Central reduziu as alíquotas do recolhimento compulsório sobre depósitos à vista e a prazo. A alíquota adicional incidente sobre os depósitos à vista foi reduzida de 6% para zero. A alíquota adicional do depósito a prazo foi reduzida para 11%, ante 12% (surtirá efeito a partir de 29 de outubro).

Crescimento

Para Delfim, em 2012 o Brasil vai crescer menos de 2%, por volta de 1,7% ou 1,8%. Há um início de recuperação, segundo o ex-ministro, que citou as medidas tomadas para acelerar o crescimento e o avanço de incorporar o setor privado nos programas de infraestrutura. “Daqui a oito ou dez meses esses investimentos estarão surtindo efeito”, afirmou. 

A dúvida, segundo Delfim, é se já foram feitos muitos estímulos e, no futuro, o país terá alguma pressão sobre os preços por causa do excesso de estímulos. Delfim acredita que o Brasil voltará a crescer 4% - “o que é bastante razoável para o país e, em 2030, daria uma renda per capita parecida com a de Portugal de hoje”, afirmou. 

Delfim afirmou que, hoje, o Brasil enfrenta um grande problema com a tributação. “Certamente houve um enorme aumento de carga”, disse. O ex-ministro defendeu a aprovação da proposta feita pela CUT ao governo, “precisamos nos livrar desse peso que adquiriu o judiciário trabalhista”, disse.


Para Delfim, a melhoria na situação da economia brasileira foi um ‘bônus’. “Nós melhoramos muito nossa posição externa, nós éramos devedores, fomos duas vezes ao FMI e, hoje, somos credores, mas nada disso se deve à politica tomada pelo governo, isso foi um bônus recebido pela expansão mundial”, afirmou. O ex-ministro disse que, enquanto China e Coreia aumentaram sua participação nas exportações mundiais, o Brasil manteve praticamente a mesma participação. “Eles aproveitaram a expansão do comércio mundial e nós não soubemos fazer isso. Jogamos fora numa tragédia de politicas cambiais. Hoje o Brasil tem uma situação confortável de reservas porque foi um presente”, afirmou.

Para Eduardo Gianetti, economista e professor do Insper, o momento pelo qual o Brasil passa agora é o de uma economia que tentou dar um passo maior que a perna, teve que ajustar, foi surpreendida pelo cenário externo e agora está dando um passo menor que a perna. O crescimento sustentável que o Brasil pode alcançar e manter sem gerar inflação ou crise de balança de pagamento é baixo, segundo Gianetti, entre 3,5% a 4%. “O Brasil é um pais com a vocação do crescimento, mas sem a vocação da poupança, de formação de capital”, afirmou.

Nossa capacidade de poupar e investir é baixa por diversos motivos, mas Gianetti destacou que o Estado brasileiro não cabe do PIB do país. “Estamos falando de um Estado pelo qual transitam, anualmente, de 38% a 39% do PIB brasileiro, na outra ponta está que ele investe a média de 2,4% do PIB”, disse. Essa drenagem de recursos em grande escala para financiar gastos correntes do setor público e é um fator importante para entender nossa situação, segundo Gianetti. “O Brasil está permanentemente buscando taxas de crescimento que ele não consegue manter”, disse.

Delfim Netto e Gianetti participaram hoje do Seminário de Crédito, organizado pela XYZ e realizado em São Paulo.

* A matéria foi alterada às 12:40 para o acréscimo de informações.

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