Economia

Delfim diz que BC "está certo em esperar" sobre Selic

"Acredito que haverá um quadro mais claro lá para o final de maio. Se os juros tiverem de subir, paciência. Eles subirão e não haverá problema nenhum", disse.


	Delfim Netto: na avaliação do ex-ministro, um dos principais fatores que provocam a expansão da inflação nos últimos meses é o avanço das expectativas dos agentes econômicos relativas ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
 (Carol do Valle /VEJA)

Delfim Netto: na avaliação do ex-ministro, um dos principais fatores que provocam a expansão da inflação nos últimos meses é o avanço das expectativas dos agentes econômicos relativas ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). (Carol do Valle /VEJA)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2013 às 21h09.

São Paulo - O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto afirmou nesta quinta-feira que o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, "está certo em esperar" um certo tempo para decidir se manterá estáveis ou elevará a Taxa de Juros Selic. "Acredito que haverá um quadro mais claro lá para o final de maio. Se os juros tiverem de subir, paciência. Eles subirão e não haverá problema nenhum", destacou. "O Tombini é um profissional extremamente competente e tem um corpo de técnicos no BC que produz uma quantidade de informações e estudos que ficam bem distantes de qualquer ente do mercado", afirmou, em São Paulo, à Agência Estado. Delfim Netto participou de um seminário realizado na Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Na avaliação de Delfim Netto, um dos principais fatores que provocam a expansão da inflação nos últimos meses é o avanço das expectativas dos agentes econômicos relativas ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). "As expectativas são tudo, elas são a inflação no curto prazo", disse. De acordo com a pesquisa Focus desta semana, a mediana das expectativas para aquele índice de preços é de 5,71% em 2013 e atinge 5,68% em 2014.

"Mas a questão das expectativas está sendo em boa parte influenciada pelos interesses de um segmento específico do setor financeiro que quer ver os juros reais em 4%", apontou, sem detalhar qual setor seria esse. "Não se trata de convencer e coordenar as expectativas desse pessoal. Para eles, o que está em jogo não são ideias, mas o bolso", apontou. "Contudo, se os juros tiverem de subir, não vão para o patamar que eles tanto querem", destacou. Hoje, a taxa real de juros, medida pelo critério ex ante (relativo aos planos ou desejos dos agentes econômicos), está próxima a 2,4% ao ano. Ele afirmou que o nível de atividade no primeiro trimestre está em recuperação e deve ter crescido ao redor de 1%, ante os três meses anteriores. "Isso dá 4% anualizados e, talvez, ainda não está no potencial, o que dá uma indicação que há um hiato do produto", apontou.

Política econômica

Delfim Netto afirmou que a política econômica do governo, que permitiu a valorização do câmbio há alguns anos, "roubou US$ 10 bilhões da demanda interna", com a elevação do déficit de conta-corrente de US$ 4 bilhões para US$ 14 bilhões. "O câmbio é a variável fundamental da economia", destacou . Na avaliação do ex-ministro da Fazenda, uma cotação desvalorizada da moeda nacional perante a dos Estados Unidos é o melhor caminho para tornar viável o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). "Crescimento é gerado com câmbio desvalorizado e seguro", disse.


"Na Alemanha, o Deutsche Mark tinha a cotação de 4,2 (ante o dólar) depois da Segunda Guerra Mundial e ficou assim até a unificação (com a Alemanha oriental)", destacou. "Não há nenhuma evidência teórica e empírica de que o câmbio apreciado produz avanço do crescimento", declarou. De acordo com Delfim Netto, está errado quem defende que um real forte é um mecanismo positivo para conter a alta dos preços. "Cada vez que usamos a apreciação do câmbio para amenizar a inflação, a colheita no futuro é terrível", garantiu.

Acordo

O ex-ministro defendeu também uma proposta que, segundo ele, foi elaborada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) para melhorar as relações trabalhistas e que, eventualmente, poderá reduzir as despesas das empresas. "Temos de apoiar aquilo que a CUT já defendeu, que é o acordo entre os trabalhadores de uma empresa e os dirigentes dessa companhia que fique acima do que determina a lei. Não se trata de acabar com direitos justos, como o 13.º e férias. Mas, é racional que, se os trabalhadores de empresas decidirem como pagarão o 13.º, se isso ocorrerá em 12 vezes e de comum acordo, por exemplo, por quê não?" Delfim Neto fez um ataque forte à Justiça do Trabalho. "Este acordo de bom senso entre as partes, que é bom pra todos, só é ruim para a Justiça do Trabalho. Ela não julga, mas legisla e isso precisa ser corrigido", acredita.

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