O ex-ministro Delfim Netto: "Nós não estamos no apocalipse, nem com o apocalipse à vista" (Carol do Valle /VEJA)
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2014 às 16h02.
São Paulo - O ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, destacou nesta terça-feira, 18, que o Brasil deve entender que não contará com a ajuda da economia internacional para sustentar seu crescimento daqui para a frente.
"Nós vamos ter de repensar nosso investimento. Não podemos confiar num grande progresso do mundo. Não podemos imaginar a volta àquele progresso extraordinário pelo qual fomos beneficiados de 2003 a 2010", afirmou, durante o evento Diálogos Capitais, que acontece em São Paulo.
O economista afirmou ainda que não há nenhuma "tragédia" à vista no Brasil, mas é preciso resolver questões internas no novo cenário da economia.
"Não temos nada que mostre que estamos caminhando para desequilíbrio fiscal monumental. Nossa inflação é desconfortável, mas não há risco de perder o controle", completou. "Nós não estamos no apocalipse, nem com o apocalipse à vista."
Para o ex-ministro, o governo e o mercado precisam compreender que "são indispensáveis" no processo de crescimento do país. "Se nós não formos capazes de superar esse problema que é nosso, que nós construímos internamente, provavelmente vamos continuar patinando uma taxa de crescimento muito baixa. Não devemos esperar nada muito entusiasmante do exterior", disse o ex-ministro.
Ele mencionou ainda que os mercados dependem fundamentalmente de um Estado forte constitucionalmente construído. "Por outro lado sem mercados que funcionem adequadamente dificilmente vai alocar os fatores com a eficiência necessária", completou.
Delfim afirmou que o crescimento depende de aumento da produtividade e da expansão do capital do trabalho. O ex-ministro destacou também que o País "insistiu em usar o juro como instrumento para controlar o câmbio, controlar a inflação", o que "destruiu um sofisticadíssimo processo industrial".
"Qual foi o resultado? No começo a valorização do câmbio roubou a demanda externa da indústria brasileira, depois a supervalorização roubou a demanda interna."
Questionado sobre a chamada "contabilidade criativa", o economista afirmou que "aquela quadrangulação ultraimaginosa de 2012 está na origem do desconforto que a sociedade teve com o governo". "Aquilo foi demais, até para mim, que apoiava o governo."