Economia

Deflação inesperada em setembro amplia viés de baixa para a Selic

“O IPCA mais fraco que o esperado faz lembrar que não deve existir preconceito com níveis baixos para a taxa Selic, como 4% ou menos”, diz Mariana Guarino

Real: como o repasse do câmbio para os preços é baixo, devido à elevada ociosidade da economia, a alta do dólar não deve impedir o BC de cortar os juros (Dihandra Pinheiro/Getty Images)

Real: como o repasse do câmbio para os preços é baixo, devido à elevada ociosidade da economia, a alta do dólar não deve impedir o BC de cortar os juros (Dihandra Pinheiro/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 9 de outubro de 2019 às 20h08.

Última atualização em 9 de outubro de 2019 às 20h17.

A surpreendente deflação de setembro leva o mercado a apostar em cortes ainda mais agressivos da taxa de juros pelo Banco Central.

A curva de juros passou a precificar cerca de 1 ponto porcentual de corte da Selic, contra 0,8 pp uma semana atrás, o que projeta uma taxa de 4,5% para o fim do ciclo de alívio monetário. Alguns analistas já falam em taxas até menores, de até 4% ou menos, a depender da evolução do cenário.

A aposta em corte maior dos juros no Brasil gera pressão no câmbio ao reduzir o diferencial entre taxas internas e externas que remunera as operações de carry trade.

No entanto, como o repasse do câmbio para os preços é baixo, devido à elevada ociosidade da economia, a alta do dólar não deve impedir o BC de cortar os juros.

Isso só ocorreria com uma valorização muito maior da moeda americana, mas o mercado ainda vê este cenário distante.

“O IPCA mais fraco que o esperado, e com qualitativo demasiado favorável, faz lembrar que não deve existir preconceito com níveis extremamente baixos para a taxa Selic, como 4% ou menos”, diz Mariana Guarino, gestora de portfólio da Truxt Investimentos.

O IPCA negativo de 0,04% em setembro, divulgado nesta quarta-feira, previsto por apenas um entre 45 economistas pesquisados pela Bloomberg, foi o menor índice para setembro desde 1998, antes da instituição dos atuais regimes de câmbio flutuante e meta de inflação. Em 12 meses, o índice desacelerou para 2,89%, o menor nível desde o período anterior à greve dos caminhoneiros de 2018.

Diante da volatilidade do câmbio, que depende do cenário externo e da conclusão das reformas e privatizações, e após os últimos índices de atividade um pouco melhor do que o previsto, parte do mercado ainda evita rever suas projeções para a Selic.

Mas, é comum o discurso de que, sem surpresas negativas no cenário, o BC poderá cortar a taxa mais que o previsto. “Não posso descartar cortes mais corajosos de juros no quarto trimestre”, disse Andres Abadia, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics.

Para outubro, a economista do Itaú Unibanco, Julia Passabom, prevê um índice perto de 2,5% no comparativo anual, abaixo do piso da meta, que é de 2,75% para este ano.

Os economistas ainda destacam o aspecto “qualitativo” do IPCA de setembro. O índice de difusão caiu para abaixo de 50% e todos os sete núcleos, além dos índices de serviços, desaceleraram, com quatro deles em patamar perto de zero, segundo cálculos da Ibiuna Investimentos.

(Com a colaboração de Rafael Mendes).

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralBloombergCopomInflaçãoIPCAPolítica monetáriaSelic

Mais de Economia

Subsídios na China fazem vendas de eletrônicos crescer até 400% no ano novo lunar

Conta de luz não deve ter taxa extra em 2025 se previsão de chuvas se confirmar, diz Aneel

Após receber notificação da AGU, TikTok remove vídeo falso de Haddad

Governo pode perder até R$ 106 bi com renegociação de dívida dos estados, estima Tesouro Nacional