Economia

Déficit comercial da indústria deve ser recorde

No período acumulado dos últimos 12 meses, encerrados em junho, o déficit atingiu US$ 106,44 bilhões, superando o recorde batido no fechamento de 2013


	Indústria: no primeiro semestre desse ano, o saldo da balança de manufaturados foi negativo em US$ 56 bilhões
 (Getty Images)

Indústria: no primeiro semestre desse ano, o saldo da balança de manufaturados foi negativo em US$ 56 bilhões (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de julho de 2014 às 11h59.

Brasília - A crise na Argentina e a perda de competitividade dos produtos brasileiros deve levar a indústria brasileira a registrar em 2014 o maior déficit comercial da história. No primeiro semestre desse ano, o saldo da balança de manufaturados foi negativo em US$ 56 bilhões, maior que os US$ 54,72 bilhões registrados de janeiro a junho de 2013. No período acumulado dos últimos 12 meses, encerrados em junho, o déficit atingiu US$ 106,44 bilhões, superando o recorde batido no fechamento de 2013, quando as importações de produtos industrializados superaram as exportações desses itens em US$ 105 bilhões.

Os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que as vendas externas de manufaturados somaram US$ 38,08 bilhões no primeiro semestre, uma queda de 11% em relação ao mesmo período do ano passado. Uma retração bem mais forte que das importações que somaram US$ 94,06 bilhões e tiveram uma queda de apenas 3,5% no período apesar do baixo crescimento da economia brasileira.

Parte da queda das vendas externas pode ser explicada pela exportação fictícia de duas plataformas de petróleo, no valor de US$ 2,43 bilhões, nos primeiros seis meses do 2013. Com isso, a base de comparação ficou desfavorável porque ainda não houve registro de plataformas neste ano. Ainda assim, analistas de comércio exterior afirmam que a situação é crítica e que não há solução de curto prazo.

Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que os itens com maiores quedas nas exportações são de automóveis de passageiro, partes e peças para veículos e tratores, motores e veículos de carga, reflexo direto da redução do comércio entre Brasil e Argentina. Esses produtos tiveram uma queda de US$ 1,58 bilhão em relação ao primeiro semestre do ano passado.

"O maior mercado para os nossos manufaturados é a Argentina. O problema é a grande concentração das vendas de automóveis para Argentina", afirmou o diretor de desenvolvimento industrial da CNI, Carlos Abijaodi. As vendas brasileiras para o parceiro do Mercosul tiveram um recuo de 19,8% no primeiro semestre deste ano

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que haverá uma queda entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões nas exportações do Brasil para Argentina este ano. Segundo os cálculos da AEB, também haverá uma redução em torno de US$ 5 bilhões nas vendas externas de plataformas de petróleo. Em 2013, sete plataformas somaram US$ 7,7 bilhões. A AEB espera a exportação de apenas duas em 2014.

"Esse ano em termos de manufaturados está perdido", afirmou o presidente da AEB. Castro destacou que as exportações de manufaturados estão no mesmo patamar de 2008. Lembrou também que aparelhos celulares já figuraram no topo da lista de produtos mais exportados e perderam destaque na pauta exportadora. "É muito caro produzir aqui. Grande parte da produção foi transferida para o México", disse.

O presidente da AEB também não vê motivos para comemorar o aumento de 11,4% nas vendas para os Estados Unidos no primeiro semestre. "Se tirar avião e petróleo, volta a estaca zero", disse.

A economista do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Lia Valls, afirma que o déficit da balança comercial da indústria de transformação é muito maior que o registrado pelo MDIC. A conta do governo inclui itens como óleos combustíveis e suco de laranja, diferente do método usado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para Lia, o resultado da balança de manufaturados reflete a falta de competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional e a baixa produtividade do setor industrial. Ela disse que os produtos siderúrgicos, por exemplo, perderam mercado para os chineses. "A China exporta produto acabado mais barato que o Brasil", afirma.

Em um cenário de queda dos preços internacionais de commodities, a balança comercial brasileira está mais dependente dos produtos básicos. Pela primeira vez desde 1980, esses itens responderam por mais da metade das vendas brasileiras ao exterior. No primeiro semestre deste ano, essa categoria de produtos com menor valor agregado atingiu 50,8% do total exportado pelo País. Por outro lado, a participação das vendas externas de manufaturados caiu para 34,4%. É a menor participação na pauta exportadora para os primeiros seis meses do ano desde 1980, quando tem início a série histórica do governo.

O setor externo brasileiro tem encolhido em função da lenta recuperação da economia mundial e do baixo ritmo de atividade econômica no Brasil. A corrente de comércio caiu 2,8% de janeiro a junho na comparação com o mesmo período do ano passado.

Para os analistas de comércio exterior, o governo brasileiro precisa apostar na realização de acordos bilaterais de comércio, investir em infraestrutura e na redução dos custos da produção. Uma agenda antiga, mas o Brasil ainda não conseguiu fazer o dever de casa. A CNI também defende estímulos para a internacionalização das empresas brasileiras. Castro acredita que o Brasil perderá participação no comércio mundo, caindo para 1,19%, depois de ter atingido 1,32% do comércio mundial em 2013.

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