Economia

Declarações pró-Israel de Bolsonaro devem prejudicar exportações

O Brasil é o maior exportador de carne Halal do mundo, isto é, com os animais abatidos sem sofrimento, seguindo os preceitos da religião muçulmana

Bolsonaro: no ano passado, as exportações de frango Halal, por exemplo, renderam ao país US$ 3,2 bilhões (Ricardo Moraes/Reuters)

Bolsonaro: no ano passado, as exportações de frango Halal, por exemplo, renderam ao país US$ 3,2 bilhões (Ricardo Moraes/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de novembro de 2018 às 09h32.

Última atualização em 6 de novembro de 2018 às 09h33.

Uma retaliação dos países árabes ao Brasil por conta de declarações pró-Israel do presidente eleito Jair Bolsonaro teria impacto negativo nas exportações brasileiras a médio prazo, especialmente de carnes, segundo especialistas em comércio exterior ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo.

O Brasil é o maior exportador de carne Halal do mundo, isto é, com os animais abatidos sem sofrimento, seguindo os preceitos da religião muçulmana. Nos frigoríficos certificados por religiosos muçulmanos, as linhas de abate, por exemplo, estão voltadas para a Meca.

"Não acredito em rompimento de relações diplomáticas e comerciais, mas os árabes poderão preferir outros concorrentes brasileiros, não certificar novas plantas para o abate Halal ou não renovar a certificação", alerta Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério de Indústria e Comércio. Ele destaca que o mercado árabe paga preço adicional pelo produto Halal.

No ano passado, as exportações de frango Halal, por exemplo, renderam ao país US$ 3,2 bilhões e responderam por 45% das receitas totais de vendas externas do produto, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). 

Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), "algumas palavras políticas hoje poderão ter reflexos negativos na área econômica", ressalta. Na sua opinião, todos os desencontros que ocorreram na semana pós-eleição mostram a descoordenação da novo governo.

"O reflexo negativo recai na economia e, no caso das exportações, o dano só não será maior porque não há fornecedores alternativos a alguns produtos", pondera.

Castro destaca que, juntos, os países do Oriente Médio representaram 4% das exportações totais brasileiras de janeiro a outubro deste ano, cerca de US$ 8 bilhões, uma participação superior à da África , que foi de 3,4%. O economista ressalta que os países árabes têm muito dinheiro e, por isso, são mercados com potencial de crescimento muito grande.

O presidente da AEB lembra que o Egito é um dos poucos países que o Brasil tem acordo comercial porque negocia muitos produtos cerca de 800. Isso significa que, a princípio, a retaliação que o país poderia fazer em relação ao produtos brasileiros não seria imediata porque existe um precedente que é o bom relacionamento.

De toda forma, o mercado já coloca no radar os efeitos negativos no lado comercial. A XP Investimentos, por exemplo, informou, por meio de nota, que "ainda que nada tenha sido confirmado, a mesa de Commodities da XP Investimentos chama a atenção para os possíveis impactos futuros desta medida ao agronegócio brasileiro, seja por parte do Egito ou por parte de algum dos outros países envolvidos no conflito Palestina/Israel". O Egito foi o 3.º maior comprador da carne bovina brasileira, 146,95 mil toneladas e participação de 12,1%.

Procurada, a Abiec, que reúne os exportadores de carne não quis se pronunciar. A ABPA, por meio de nota, disse que "acredita que esta questão será novamente avaliada no início do novo governo."

Para o diretor da MB Agro, José Carlos Hausknecht, o estremecimento das relações entre Brasil e Egito pode afetar as vendas de açúcar para os países árabes. O Brasil exporta cerca de 28 milhões de toneladas de açúcar por ano-safra. Só para o Egito, foram embarcadas no ano passado 1,5 milhão de toneladas.

"Não dá para se ter um impacto sobre as exportações ainda, mas o bloco árabe é um importante mercado para o Brasil", disse Hausknecht. Procurada a União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) não se posicionou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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