Economia

De relógios a remédios: como o tarifaço de Trump deve brecar os negócios com a Suíça

EUA representaram 19% das exportações de bens suíços em 2023

Zurique, na Suíça: o país é um dos destinos de investimentos de brasileiros por causa da tributação (Getty Images)

Zurique, na Suíça: o país é um dos destinos de investimentos de brasileiros por causa da tributação (Getty Images)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter

Publicado em 3 de agosto de 2025 às 15h07.

Os investidores do mercado acionário suíço aguardam com apreensão a reabertura das negociações nesta segunda-feira após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma tarifa de 39% sobre importações provenientes da Suíça. A medida, uma das mais altas do mundo, foi divulgada durante o feriado do Dia Nacional da Suíça, o que retardou a reação do mercado local.

Embora a nova rodada de tarifas tenha mantido as taxas inalteradas para grande parte dos parceiros comerciais americanos, países como Canadá e Suíça foram duramente afetados com tarifas significativamente mais elevadas. A Suíça, que exportou mais de US$ 60 bilhões em produtos para os EUA no ano passado — incluindo farmacêuticos, dispositivos médicos, chocolates e relógios de luxo —, deve sentir o impacto imediato da medida.

Reação dos mercados

Na sexta-feira, ações de empresas suíças já apresentaram queda em negociações internacionais. Os papéis do UBS Group AG, maior banco do país, recuaram 1,8%, enquanto a Logitech International SA, fabricante de equipamentos de informática, caiu 3,5%.

Os recibos de depósito americanos da Compagnie Financière Richemont SA — dona de marcas como Cartier e Van Cleef & Arpels — caíram 2,5%, e as ações da Watches of Switzerland Group Plc perderam 6,8% na bolsa de Londres.

Segundo analistas ouvidos pela Bloomberg, os EUA representaram 19% das exportações de bens suíços em 2023. O cenário mais provável, avaliam, é que ambos os países firmem um acordo tarifário semelhante ao firmado entre Washington e a União Europeia. Mesmo assim, uma tarifa de 15% ainda seria considerada elevada em comparação ao período anterior, agravada pela recente valorização do franco suíço frente ao dólar.

Indústria do relógio é uma das mais afetadas

A medida surpreendeu a indústria de relógios suíços, tradicionalmente direcionada ao mercado americano. Oliver R. Müller, consultor do setor de luxo, afirmou à Bloomberg que a tarifa de 39% pode resultar em aumentos de preços de até 14% no varejo, caso marcas como Rolex, Patek Philippe e Omega repassem o custo adicional aos distribuidores nos EUA. Isso poderia acrescentar cerca de US$ 1.000 ao preço de um Rolex Submariner em aço inoxidável, atualmente vendido por US$ 9.500.

Setor farmacêutico também está na mira

Empresas farmacêuticas suíças, como Novartis AG e Roche Holding AG, também enfrentam pressão extra. Na semana anterior, Trump enviou cartas a 17 grandes farmacêuticas exigindo a redução dos preços de medicamentos, o que gerou incertezas no setor.

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