Pessoas aguardam o início de uma sessão do Fórum Econômico Mundial em Davos (Denis Balibouse/Reuters)
Da Redação
Publicado em 23 de janeiro de 2014 às 22h37.
Davos, Suíça - A redução da desigualdade costuma ser o alvo dos manifestantes no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Neste ano, esta é a palavra de ordem da elite econômica, preocupada com seus lucros.
Enquanto a crescente disparidade de renda se torna tema dominante no encontro anual no resort suíço de esqui, líderes empresariais e financeiros defendem que uma inversão dessa tendência de décadas é necessária tanto para os negócios e interesses econômicos quanto por razões sociais e morais.
O fracasso em reduzir essa lacuna pode privar as economias da demanda e ameaçar bancos e grandes empresas com retrocessos políticos e regulatórios se os eleitores se rebelarem contra os baixos salários. Uma pesquisa com assinantes da Bloomberg divulgada nesta semana descobriu que 58 por cento veem a desigualdade de renda com um freio para o crescimento econômico, com 68 por cento exortando os governos a enfrentarem o problema.
“Há uma percepção crescente de que esse não é simplesmente um assunto com o qual você se preocupa porque é um assunto com o qual você deve se preocupar”, disse John Veihmeyer, presidente e CEO da empresa de contabilidade KPMG LLP, em Davos. “Isso tem um impacto muito grande sobre a recuperação econômica ao redor do mundo”.
Outros não estão convencidos de que a palestra “Homem e Mulher”, em Davos, falará de algo mais que isso.
“Eu não sinto, ainda, uma transformação profunda de parte deles”, disse Jeffrey Sachs, economista da Universidade de Columbia. “Eles deveriam estar preocupados”, disse ele. “Sociedades desiguais se comportam pior em muitas medidas”.
Demanda prejudicada?
O fracasso em mitigar a desigualdade de renda pode prejudicar a demanda econômica e fomentar mais pressões populistas sobre os governos para proteger os eleitores, disse Tim Adams, presidente do Instituto de Finança Internacional, que representa mais de 400 empresas financeiras, incluindo Goldman Sachs Group, Barclays e Deutsche Bank.
“Quanto mais estagnados estão os salários, mais pressão existe para encontrar soluções para o crescimento”, disse Adams, ex-funcionário do Tesouro dos EUA. “Se os trabalhadores não têm renda suficiente, eles não podem ser consumidores”.
A desigualdade está surgindo como um tópico-chave do debate em Davos após sinais de que as economias avançadas estão ampliando a ajuda para reduzir as preocupações das últimas reuniões. A discussão está sendo redirecionada para quem pode ter ficado para trás na recuperação, considerando que a globalização eleva a concorrência e a tecnologia torna alguns trabalhos obsoletos.
“Houve um suspiro de alívio na economia, que está parecendo um pouco melhor, mas agora é preciso prestar atenção na política”, disse David Rhodes, sócio do The Boston Consulting Group. “Com salários que não se ajustam à inflação, há uma politização da recuperação econômica que está levando a políticas hostis de negócios”.
O Fórum Econômico Mundial, com sede em Genebra, estabeleceu o debate na semana passada ao identificar a desigualdade de renda como o mais provável dos 31 riscos potenciais a ameaçar a prosperidade global na próxima década. A disparidade pode fomentar a pobreza e os distúrbios sociais, disse o fórum.
Assunto ‘moral’
“Não se trata de um assunto de negócios”, disse o CEO do Morgan Stanley, James Gorman, à Bloomberg Television. “É um assunto social e moral. As empresas trabalham em nome de seus acionistas com boa governança, reguladas por uma reguladora. Esta é uma questão social mais ampla”.
Gorman somou sua voz aos pedidos para que o salário mínimo seja aumentado nos EUA. O presidente Barack Obama buscou um aumento, mas a lei não passou pelo Congresso. Fora dos EUA, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, ambos delegados de Davos, estão defendendo salários mais altos como uma forma de impulsionar a expansão econômica.
Falando em um painel patrocinado pela HSBC, John Lipsky, ex-primeiro-vice-diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, pontuou que a participação dos trabalhadores no PIB está agora em uma baixa histórica enquanto a participação das corporações está em seu nível mais alto.