Trabalhador: comparando evolução do CUT no período 2004/2011, Brasil foi único país entre maiores economias globais que apresentou crescimento no indicador (Marcos Issa/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2013 às 20h09.
Rio de Janeiro - O Custo Unitário do Trabalho (CUT), indicador que mede a relação entre o custo da hora trabalhada e a produtividade do trabalhador, cresceu 7,2% no Brasil no ano passado, o que significa diminuição da competitividade dos produtos brasileiros diante de concorrentes estrangeiros.
É o que mostra nota técnica divulgada hoje (4) pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). De acordo com a pesquisa, no acumulado de 2011 e 2012, o CUT no Brasil subiu 11,3%.
“O grande problema é que houve no Brasil, nos últimos anos, uma combinação perversa de aumento do custo do trabalho, com queda de produtividade. Ou seja, passou-se a pagar mais para menos produção. E, obviamente, o resultado disso é um choque de custos, que retira a competitividade do produto nacional”, disse à Agência Brasil o gerente de Economia e Estatística da Firjan, Guilherme Mercês.
Comparando a evolução do CUT no período 2004/2011, o Brasil foi o único país entre as maiores economias globais que apresentou crescimento nesse indicador, da ordem de 6%.
Nos Estados Unidos, o CUT recuou 22%, enquanto na Coreia do Sul, e no Japão a queda foi, respectivamente, 20,1% e 18,7%. Em outros países, como França, Alemanha e Reino Unido, o CUT caiu, em média, 14,6%, revela a nota técnica da Firjan.
Segundo Guilherme Mercês, a comparação internacional levanta uma questão importante. “No pós-crise, todos os países desenvolvidos se engajaram em reformas de redução dos custos do trabalho e aumento de produtividade”.
Entre elas, está a reforma da Previdência Social, redução do número de feriados, aumento de gastos em pesquisa e novos processos.
“O Brasil não fez o seu dever de casa. Então, perdeu competitividade diante de seus principais concorrentes. Não à toa, o que nós vimos nos últimos anos foi uma enxurrada de importados na economia brasileira”.
Mercês avaliou que, para reduzir o CUT, o Brasil precisaria cumprir duas agendas amplas. A primeira passa por políticas voltadas para o aumento da produtividade. “Nós estamos falando de mais investimento em educação, pesquisa e desenvolvimento e tecnologia em geral, até mesmo em processos dentro das empresas”.
Outra agenda envolve a redução de custo do trabalho no país. “Aí, nós estamos falando de modernização da legislação trabalhista, que foi instituída na década de 1930 e não consegue mais atender ao mundo do trabalho atual, e outros penduricalhos com os quais o Brasil vai convivendo e tornam o trabalho caro”. A multa adicional de 10% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), paga pelas empresas ao governo no caso de demissão do trabalhador, e a discussão sobre terceirização são alguns casos que elevam o custo da hora trabalhada, apontou.
O aumento do CUT afeta de forma especial a indústria brasileira, assegurou o economista. “A indústria é uma tomadora de preços no mercado internacional. Portanto, ela só pode praticar, no máximo, o preço do mercado externo. Caso contrário, perde para os importados. A grande questão é a que custo a indústria nacional consegue produzir”.
Treze dos 15 segmentos que compõem a indústria da transformação mostraram aumento no custo do trabalho, com destaque para o setor têxtil, que acumulou alta de 25,3% entre os anos de 2011 e 2012. Em seguida, aparecem material de trasporte, com alta de 21,3%, e máquinas e equipamentos (21%). Segundo a Firjan, esse movimento reflete queda significativa de produtividade dos três setores, no período analisado.
Os únicos setores em que o CUT diminuiu foram os de papel e gráfica, com queda de 6,3%, e madeira (-13,6%).