Economia

Crise se agrava, mas Venezuela não é aqui

Especialista diz que o país deve seguir em um cenário de dificuldades, mas sem resvalar para uma crise como a enfrentada pela Venezuela


	Moedas de Real: “não devemos ter um colapso”, diz especialista
 (Bruno Domingos/Reuters)

Moedas de Real: “não devemos ter um colapso”, diz especialista (Bruno Domingos/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 2 de setembro de 2015 às 21h24.

A definição de um orçamento deficitário para 2016 caiu como bomba no mercado e, aliada a receios com a economia da China, provocou nova disparada do dólar e queda da bolsa.

As expectativas poderão ter nova rodada deterioração se o País perder o grau de investimento ou se prosseguir o enfraquecimento do ministro Joaquim Levy.

A piora na percepção do mercado tem sido avassaladora nas últimas semanas. O dólar já subiu 17% desde que governo reduziu a meta fiscal, em 22 de julho, e acumula alta de 40% este ano.

Alguns analistas falam em mais venda pesada de ativos brasileiros em caso da perda do grau de investimento ou se for materializado o mais recente temor dos mercados: o de que Levy peça o boné.

Maílson da Nóbrega, que também conviveu com pressões quando comandou a Fazenda durante o período da hiperinflação no governo Sarney, considera que o noticiário sobre possível saída de Levy pode estar carregando nas tintas.

“Para um ministro da Fazenda, é normal ter de ceder em algumas questões em momentos de crise”.

Um ministro da Fazenda apenas não deve ceder em medidas que representem o “core” de sua política. Esse foi o caso do crédito subsidiado às empresas, que Levy não deveria ter permitido, diz Maílson. "Isso foi uma reedição dos tempos de Mantega”. Maílson considera que Levy pode ficar no governo por um sentido de missão. “Ele sabe que, se sair, a situação vai piorar”.

Instituições independentes

O ex-ministro considera que o Brasil certamente perderá o grau de investimento e vê dificuldade para o governo aprovar reformas por falta de liderança da presidente Dilma Rousseff.

Ainda assim, considera mais provável o País seguir em um cenário de dificuldades, de baixo crescimento e inflação alta, mas sem resvalar para uma crise como a enfrentada por vizinhos latino- americanos como a Venezuela ou como o próprio Brasil enfrentou nos anos 80.

“O governo do PT errou ao enfraquecer as agências reguladoras, mas não mexeu nas instituições básicas, que são o Congresso e o Judiciário independentes”, diz Maílson, que analisou o impacto das instituições no Brasil no livro ”O Futuro Chegou: instituições e desenvolvimento no Brasil”.

A Lava Jato seria um exemplo desta independência. Maílson ainda elenca a autonomia do Banco Central e a imprensa livre entre fatores que ajudam a afastar o Brasil de aventuras mais perigosas. “É muito diferente do que vemos em outros países, como a Venezuela, onde o Congresso e a imprensa são manietados”.

Maílson também vê o Brasil distante de um cenário marcado pela hiperinflação e crises cambiais de décadas passadas. As reservas de US$ 370 bilhões são "um escudo”, assim como a existência de um sistema financeiro sofisticado e uma economia de mercado vigorosa. O setor privado, em algum momento, deve se ajustar à alta do dólar, aumentando as exportações e reduzindo o déficit em conta corrente.

Apesar das dificuldades atuais enfrentadas pelo ministro da Fazenda, o próprio fato de Dilma ter escolhido Levy para a Fazenda no início do governo já teria sido um diferencial em favor do País, diz Maílson.

“Pelo menos a presidente mostrou preocupação em recuperar a confiança dos investidores”.

A avaliação de Maílson faz eco com as projeções do mercado, que têm se deteriorado mas ainda apontam para alívio a partir de 2016, com a recessão passando de -2,3% este ano para -0,4% em 2016 e a inflação caindo de 9,3% para 5,5%. A economia ainda pode demorar algum tempo para chegar ao "fundo do poço” e a alta do dólar deve limitar a queda da inflação.

"Mas pelo menos devemos sair de uma recessão para uma estagnação”, diz o ex- ministro da Fazenda. “Não devemos ter um colapso”.

--Com a colaboração de Davison Santana em São Paulo e George Lei em N York.

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