Economia

Crise sanitária adia expectativas de retomada para o segundo semestre

Altos números de desemprego, inflação e juros comprometem projeção de crescimento do BC, de 3,6%; Vacinação e responsabilidade fiscal são determinantes

Brasil: revisões constantes (para baixo) do crescimento da economia (Pilar Olivares/Reuters)

Brasil: revisões constantes (para baixo) do crescimento da economia (Pilar Olivares/Reuters)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 25 de março de 2021 às 17h38.

Última atualização em 25 de março de 2021 às 19h07.

O recrudescimento da pandemia em todo Brasil e a morosidade na vacinação, que até agora imunizou pouco mais de 6% da população, já impactam as projeções do mercado para a retomada da economia, que passou a ser visualizada por analistas apenas a partir do segundo semestre. O próprio Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central, divulgado nesta quinta (25), confirma esse cenário.

De acordo com o documento, o PIB brasileiro deve apresentar "recuo moderado ao longo do primeiro semestre, seguido de recuperação relevante nos últimos dois trimestres do ano, decorrente da redução esperada na taxa de letalidade da Covid-19 e no número de internações, com o avanço da vacinação". Ainda assim, a instituição reviu sua previsão de alta no crescimento para 3,6% - 0,2 ponto percentual abaixo do que trouxe a última edição do relatório, em dezembro.

Ali entre o 3º e o 4º trimestre, quando vimos os números da pandemia diminuindo e tivemos boas notícias sobre os testes das vacinas, colocou-se um otimismo que ganhou uma amplitude maior do que ele deveria ter. No entanto, muitos empresários e autoridades não fizeram essa ligação, de que a recuperação econômica seria uma consequência direta da vacinação. Até janeiro, muita gente com poder de decisão acreditava que a vacinação não seria determinante.

Fernando Ribeiro Leite, economista do Insper

Apesar da frustração de expectativas para a primeira metade de 2021, o economista acredita que o segundo semestre deve ser mais animador, tanto pelo ganho de abrangência das vacinas, que deve ganhar impulso a partir do meio do ano, quanto pela credibilidade do BC em relação ao seu compromisso com a meta de inflação.

"Eu entendo que, até meados do ano, a vacinação já vai estar mais avançada, e com isso a economia deve ir se soltando. No 4º trimestre, talvez já tenhamos boa parte da população vacinada", estima Leite. "Então, com um pouco de sorte, planejamento e estabilidade fiscal, talvez consigamos aproveitar o ciclo de recuperação mundial que deve se acelerar a partir de julho. Com um bom punhado de gente vacinada, engatamos nesse crescimento."

Por outro lado, o presidente do Conselho Federal de Economia, Antônio Lacerda, tem uma visão mais pessimista, segundo a qual a projeção de crescimento do Banco Central é pouco factível dada a situação atual da economia brasileira. Com inflação, juros e desemprego altos em um cenário de recessão, Lacerda vê uma diminuição da massa salarial que não deve ser compensada pelo auxílio emergencial (que neste ano será menor), acarretando em queda na demanda e no crescimento.

"Todos os anos, os economistas começam otimistas e depois vão revisando suas expectativas para baixo. E, pela série do boletim Focus, o mercado já começou a fazer esse ajuste", explica o economista, que aposta numa queda do PIB já no primeiro semestre e considera o carregamento estatístico de 2020 insuficiente para alcançar a projeção do BC. "Esse crescimento desejado não encontra respaldo nos indicadores antecedentes e emprego, renda, consumo e investimento. Não existem vetores para o crescimento da economia."

"Falta à política econômica atual uma estratégia, um rumo. É tudo muito simplista, como se você tratasse de questões gerais e a economia andasse sozinha. Nunca foi assim, especialmente no Brasil. Precisamos de estratégias políticas para induzir o crescimento e a renda, que não existem atualmente."

Antônio Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia

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