Economia

Crise empurra 3,7 milhões de volta para fora da classe C

Crise está derrubando a renda e não está descartado que a classe C volte a representar menos de metade da população brasileira, mostra estudo do Bradesco

Desigualdade de renda piora no Sudeste (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Desigualdade de renda piora no Sudeste (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 12 de janeiro de 2016 às 11h56.

São Paulo - A crise econômica já está fazendo com que parte dos brasileiros migrem da chamada "nova classe média" de volta para as classes D e E.

Entre janeiro e novembro de 2015, a proporção de brasileiros na classe C caiu dois pontos percentuais, de 56,6% para 54,6%.

Isso significa que cerca de 3,7 milhões de brasileiros que deixaram de ter renda mensal familiar entre R$ 1.646 e R$ 6.585 no período, e eles não estão migrando para cima na pirâmide social.

No mesmo período, a classe D passou de 16,1% para 18,9% e a classe E foi de 15,5% para 16,1%, revertendo o processo de queda vivido na última década.

Enquanto isso, as classes A e B também diminuíram de tamanho: a primeira foi de 6,8% para 5,9% da população e a segunda foi de 5,1% para 4,5%.

Os números foram elaborados pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Banco Bradesco, com informações da PNAD e da PME do IBGE.

Reversão

De acordo com Ana Barufi, pesquisadora do banco, o principal fator explicativo é a piora do mercado de trabalho decorrente da crise econômica do país.

Primeiro por uma questão metodológica, já que o PME mede apenas a renda do trabalho, e segundo porque a subida da taxa de desemprego afeta primeiro as classes mais baixas.

"O rendimento real vem desacelerando já há alguns trimestres, refletindo, entre outras questões, negociações salariais que buscam manter empregos, mesmo com ganho nominal menor de salário. A desaceleração e até início de reversão da formalização do mercado de trabalho faz com que menos indivíduos tenham acesso ao seguro desemprego, o que também pode afetar a renda disponível", diz Ana.

Ela lembra que outros fatores que compõe as rendas das famílias, como aposentadorias e transferências, não sofreram ainda grande impacto da crise.

Os aposentados e pensionistas que recebem mais de um salário mínimo vão contar com um reajuste de 11,28% em 2016, variação definida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e que vai elevar os os gastos da Previdência em R$ 21,5 bilhões este ano.

Já o desemprego deve seguir crescendo em 2016 em direção aos dois dígitos, o que vai afetar a renda. Não está descartado que a classe C volte a representar menos de metade da população brasileira, o que foi atingido em 2010.

Ainda assim, isso não significa que todos as conquistas sociais das últimas décadas sejam facilmente revertidas, pois não estão relacionadas apenas a renda mas também a fatores como educação. 

"Uma parte substancial da redução da pobreza tem raízes sólidas. Tem lá o papel importante das políticas sociais e a pura e simples melhora no acesso à educação, mesmo sem falar em qualidade. Tem também a ver com os ganhos macroeconômicos de estabilidade que o pais auferiu e pode muito bem recuperar", disse Otaviano Canuto, diretor-executivo para o Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional), em entrevista para EXAME.com em setembro.

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