Economia

Crise econômica dificulta comemoração do Natal na Venezuela

Comprar uma bicicleta, uma boneca e um tablet custa dez salários mínimos, que atualmente é de 9.648,18 bolívares


	Crianças olham brinquedos: o preço de uma bicicleta barata é de 25 mil bolívares (US$ 3.968 ou US$ 125, segundo as taxas oficiais)
 (Cesar Manso/AFP)

Crianças olham brinquedos: o preço de uma bicicleta barata é de 25 mil bolívares (US$ 3.968 ou US$ 125, segundo as taxas oficiais) (Cesar Manso/AFP)

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Da Redação

Publicado em 21 de dezembro de 2015 às 09h50.

Caracas - A aguda crise econômica dificulta aos venezuelanos a comemoração do Natal neste ano em uma sociedade tradicionalmente consumista, que costumava gastar com roupas, calçados, comida e decorações.

Comprar uma bicicleta, uma boneca e um tablet custa dez salários mínimos, que atualmente é de 9.648,18 bolívares (US$ 1.531 no câmbio oficial de 6,30 bolívares por dólar, mais baixo, ou US$ 48 na taxa Simadi, um mecanismo de compra e venda "livre" pela qual um dólar vale quase 200 bolívares).

O preço de uma bicicleta barata é de 25 mil bolívares (US$ 3.968 ou US$ 125, segundo as taxas oficiais), uma boneca custa 15 mil bolívares (US$ 2.307 ou US$ 75) e um tablet a partir de 60 mil bolívares (US$ 9.524 ou US$ 300).

"Muitas famílias ficarão sem presentes, não há dinheiro (...) O que você ganha é gasto em alimentos, ou você come ou veste as crianças", disse à Agência Efe Lucía González, vendedora de La Hormiga, um mercado popular da capital.

No mesmo mercado, uma professora, cujo nome não quis revelar, disse que estima que sejam necessários 200 mil bolívares por pessoa (US$ 31.746 ou US$ 1.000, segundo as taxas) para comprar roupas e calçados para as festividades. "Não posso pagar", ressaltou.

Mesmo no dia de pagamento de salários, os corredores de La Formiga ficaram vazios e as vendas minguaram, segundo os comerciantes.

"Nesta época, em outros anos, se vendia muito", afirmou à Efe Claudio Ochoa, um vendedor que comparou a antiga afluência de pessoas nesta época com "o metrô chinês".

Ochoa explicou que sua mercadoria é importada com dólares obtidos no mercado negro "porque o governo não dá Simadi", por isso "as coisas sobem ao ritmo do paralelo".

Desde 2003 a exclusividade de compra e venda de divisas está nas mãos do governo, e quem não consegue adquirir dólares nas taxas oficiais de 6,30 para quase 200 bolívares por dólar recorrem ao mercado negro no qual, atualmente, se cota em mais de 850 bolívares por dólar.

Os comerciantes que não importam a mercadoria nem lidam com a complicada aquisição de divisas enfrentam outro problema: a escassez.

Mariángel Mordado, vendedora de camisas fabricadas na Venezuela, assegura: "Não se consegue tecido, não se consegue fios, nada".

Ela disse ter solicitado ajuda ao governo, pois "os administradores" de mercados municipais como La Hormiga, administrado pela Prefeitura de Caracas, "levam o dinheiro" e não investem nas instalações ou nos serviços, a cada dia mais precários.

"Mandamos cartas para (o prefeito de Caracas) Jorge Rodríguez e não tivemos resposta (...), houve 14 roubos a lojas em um mesmo dia (...), os usuários se queixam da insegurança e deixam de vir, por isso as vendas caem", afirmou.

Quem frequenta os mercados reconhece o risco de transitar pelos estreitos e escuros corredores nos quais há muitos crimes. No entanto, nos shoppings os preços são o dobro.

María Pereira, vendedora de têxteis, explica que, "como comerciante, não há Natal".

Muitos venezuelanos se verão obrigados a sacrificar a popular ceia de Natal com pernil, salada de galinha, pão de presunto e seu tradicional hallaca (bolo de farinha de milho recheado com um guisado a base de carne bovina, suína e de frango envolvido em folha de bananeira).

"Não farei hallacas. A carne, quando se consegue, está cara (...) o salário não dá", disse Esther Colmenares, enfermeira entrevistada pela Agência Efe no mercado popular Guaicaipuro, onde os alimentos têm preços mais acessíveis.

"Parece um mês qualquer, se perdeu a emoção porque não há nada, nem frango, nem carne, nem farinha", afirmou um açougueiro que não quis se identificar.

Blanca Flores, que vive em Guatire, cidade dormitório nos arredores de Caracas, alega que "lá é pior" e que viaja para a capital porque é onde estão "os centros de abastecimento".

Ela contou que, "quando se consegue algo, as filas são enormes" e não está disposta a "passar horas em uma delas para comprar três quilos de farinha".

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