Economia

Crise argentina provoca queda nas vendas de camisinhas e anticoncepcionais

De acordo com a Confederação Farmacêutica Argentina, aumento nos preços foi de 23,47%

Protesto na Argentina: protestos tomam avenida 9 julho contra governo Macri  (NurPhoto/Getty Images)

Protesto na Argentina: protestos tomam avenida 9 julho contra governo Macri (NurPhoto/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 19 de setembro de 2019 às 15h46.

Última atualização em 19 de setembro de 2019 às 16h03.

Buenos Aires — Um humorista argentino gravou um vídeo no qual conversa com uma mulher sensual sobre a possibilidade de fazerem sexo, mas lhe diz que precisa pensar bem, porque só tem um preservativo até o final do ano devido à crise econômica no país.

"A desvalorização me matou", diz o ator Guillermo Aquino à jovem, ao lhe explicar por que não quer fazer sexo naquele momento. "Você é encantadora, não é você, é a conjuntura socioeconômica", acrescenta o humorista, um sucesso estrondoso no Instagram e no Facebook, onde tem mais de 400 mil seguidores.

O vídeo satiriza uma situação que, na verdade, não tem nada de engraçada: com uma inflação anual que superará os 50%, devido à queda do peso, e com a perda de poder aquisitivo dos argentinos, as vendas de preservativos e de pílulas anticoncepcionais foram abaladas, afetando os hábitos sexuais.

Segundo fontes da indústria de preservativos, de especialistas de higiene e da associação de farmacêuticos, no primeiro semestre do ano a venda de camisinhas caiu cerca de 8%, e a de pílulas anticoncepcionais cerca de 6%.

Mas os donos de farmácias consultados dizem que essa queda se agravou nos últimos dois meses em meio ao colapso financeiro da Argentina, chegando a 25% no primeiro caso e a 20% no segundo.

"Em termos de anticoncepcionais orais, no primeiro semestre do ano o aumento de preços foi de 23,47%", disse Isabel Reinoso, presidente da Confederação Farmacêutica Argentina (CoFA), à Reuters. "Aproximadamente, seriam 144 mil mulheres que pararam de tomar anticoncepcionais por mês", acrescentou.

Os preservativos são vendidos em farmácias, mas também em bancas de jornais e supermercados, e por isso é mais difícil medir suas vendas.

Vários farmacêuticos consultados estimam a queda das vendas em cerca de 25%, mas o chefe de uma empresa que fabrica uma das camisinhas mais vendidas no país afirmou que no primeiro semestre a redução foi de 8%, contabilizando todas as marcas.

"Todos os insumos do preservativo são importados (o que encarece seus custos). E os aumentos de preços desde o princípio do ano estão em cerca de 36%", disse Felipe Kopelowicz, presidente da Kopelco, fabricante dos preservativos Tulipán e Gentleman, à Reuters.

O governo argentino distribui gratuitamente preservativos em hospitais públicos, mas nem todos sabem ou os utilizam.

A Secretaria de Saúde não respondeu de imediato a pedidos de comentários da Reuters sobre a demanda durante a crise, mas especialistas em saúde pública afirmam que os jovens não costumam ir aos postos de saúde retirar preservativos.

Todos os especialistas de higiene concordam que, em épocas de crise, as pessoas estabelecem novas prioridades e tendem a descuidar da saúde, o que acarreta um aumento das doenças sexualmente transmissíveis (DST).

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