Indústria de autopeças (Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2015 às 09h16.
Brasília - A criação de empregos com carteira assinada teve em 2014 o pior resultado da série histórica iniciada em 2002, informou ontem o Ministério do Trabalho e Emprego. No ano, foram gerados 397 mil novos postos de trabalho, desempenho 64,5% inferior ao de 2013, quando o saldo atingiu 1,1 milhão de vagas.
O resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem em Florianópolis, frustrou a previsão de se criar 1,5 milhão de vagas feita pelo ministro Manoel Dias no início do ano passado.
Em Santa Catarina, sua base eleitoral, o ministro tentou minimizar o mau resultado ao atribuí-lo a algumas peculiaridades de 2014. "Houve uma campanha de que a Copa do Mundo não seria realizada, o que gera um insegurança e retrai o investidor", disse.
"Também tivemos eleições acirradas, que criaram uma ideia de que o Brasil vivia uma crise, estava quebrando. Isso criou uma expectativa em alguns setores."
Mesmo longe de suas previsões, ainda assim Dias viu uma tendência positiva na performance. "O que é importante é que nós continuamos acrescentando postos de trabalho no estoque."
Em dezembro, o mercado de trabalho registrou encolhimento de 555 mil vagas. Foi o pior resultado para o mês desde 2008, quando estourou a crise financeira global. No mês passado, houve 1,176 milhão de admissões e 1,732 milhão de cortes.
Na avaliação do economista da Fundação Seade, Alexandre Loloian, coordenador da pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), o saldo do ano é muito baixo para um governo que previa resultados mais robustos. O desempenho do mercado de trabalho, segundo ele, ficou "muito aquém" do esperado, principalmente no fim do ano, a partir de outubro e novembro.
Em abril do ano passado, Manoel Dias afirmou que o governo Dilma Rousseff chegaria a um total de 6 milhões de empregos criados em quatro anos - o que também não virou realidade. Dilma fechou o primeiro mandato com saldo de 5,3 milhões de vagas. "Cinco milhões foi espetacular. O mundo está em crise", emendou o ministro.
O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, avalia que o resultado do Caged mostra uma tendência de estagnação com viés negativo. "A situação tende a piorar ao longo de 2015, pois todas as notícias que temos são mais no sentido de eliminação de postos do que de contratações."
No mesmo tom do ano passado, Manoel Dias segue mais otimista ao prever a influência de investimentos em infraestrutura no mercado de trabalho. "Em um prazo relativamente pequeno, o Brasil vai retomar seu crescimento", garantiu.
Tendência
No diagnóstico do economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, os dados mostram uma nítida deterioração do mercado de trabalho. "Era uma tendência que já vínhamos observando e os números de dezembro apontam que esse cenário de piora deve continuar", afirmou.
Os resultados apontam para um início de ano muito fraco. "É bastante provável que em algum momento do primeiro semestre tenhamos números do Caged negativos no acumulado de 12 meses."
Na avaliação por setores, a indústria de transformação teve o pior desempenho em dezembro, com o fechamento de 172 mil postos de trabalho, seguido pela construção civil, com menos 132 mil vagas, e pelo setor de serviços, que reduziu 149 mil postos.
A agricultura, frequentemente tratada pelo ministro Manoel Dias como exemplo de dinamismo por seguir batendo recordes de produção, teve queda de 64 mil vagas em dezembro. O dado foi justificado por Dias como "sazonal". No ano, o setor fechou 370 vagas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.