Produção de motos em Manaus: deve ter um efeito base importante, já que indústria da região Norte foi afetada fortemente pela recessão (Paulo Fridman/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 4 de novembro de 2016 às 14h57.
Última atualização em 4 de novembro de 2016 às 14h58.
São Paulo - A esperada retomada da economia brasileira no ano que vem será bastante desigual entre as regiões brasileiras, com o Norte mostrando expansão muito mais acelerada por conta de importantes investimentos locais já feitos e maior espaço para recuperação.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Norte deverá avançar 3,9 por cento em 2017, mostra estudo sobre cenários regionais elaborado pela consultoria Tendências, ao qual a Reuters teve acesso. Em seguida, vêm as regiões Nordeste e Centro-Oeste, com quase a metade do crescimento esperado para seus vizinhos, de 2,3 e 2,2 por cento, respectivamente.
No fim da lista, estão Sudeste (1,4 por cento) e Sul (1,3 por cento). Para o Brasil, a consultoria estima alta do PIB de 1,5 por cento no ano que vem.
"Na região Norte há maturação de uma série de investimentos e a economia é mais sensível ao ciclo de retomada econômica", afirmou o economista da Tendências e responsável pelo estudo, Adriano Pitoli.
A indústria deverá ser o principal dinamizador da economia do Norte em 2017, levando um efeito multiplicador para as demais atividades. A Tendências estima crescimento de 7,2 por cento para o PIB industrial da região, três vezes mais que o previsto para o Brasil como um todo.
A boa perspectiva para o setor industrial pode ser explicada basicamente por dois motivos: a construção do projeto de mineração Ferro Carajás S11D, da Vale, executado simultaneamente no Pará e no Maranhão, e a retomada da zona franca de Manaus.
O projeto de mineração da Vale deve entrar em operação até o fim deste ano e tem investimento de 14,3 bilhões de dólares. No pico, a obra contratou 30 mil trabalhadores, e contempla a construção de um ramal ferroviário de 101 quilômetros, a expansão da Estrada de Ferro Carajás e a ampliação do Terminal Marítimo de Ponta Madeira, em São Luís.
A zona franca de Manaus deve ter um efeito base importante, já que indústria da região Norte foi afetada fortemente pela recessão porque se dedica à produção de itens como motocicletas e eletroeletrônicos que acabam sentindo a retração da atividade doméstica, com piora do crédito e do mercado de trabalho.
O Norte também vai se sobressair por causa do comércio. A alta esperada, segundo o levantamento da Tendências, é de 5 por cento no ano que vem, a maior entre todas as regiões.
Um indicador elaborado pela bureau de crédito Boa Vista mostra que, por ora, há boas perspectivas para o crédito da região, o que deve ajudar no comércio. A recuperação de crédito --consumidores que pagaram dívidas antigas e, portanto, podem voltar a tomar empréstimos-- avançou 5,1 por cento nos 12 meses encerrados em setembro no Norte. No Brasil, houve alta de apenas 0,6 por cento no mesmo período.
A consultoria IPC Marketing, especializada em mapear os gastos dos brasileiros, estima, no entanto, que o potencial de consumo da região é de 233 bilhões de reais, o equivalente a apenas 6 por cento do total do potencial brasileiro. E a participação da economia do Norte no PIB do país é de apenas 5,5 por cento.
Mas tem havido um aumento constante do Norte no consumo nacional por causa do crescimento mais acelerado da região na comparação com as demais.
"Tanto no Norte como em algumas regiões do Nordeste, há uma grande concentração da população de classe média-baixa e baixa. Qualquer empresa que se instale nessas regiões e ofereça empregos, provoca um impacto maior do que provocaria em outras regiões", diz diretor da IPC Marketing, Marcos Pazzini.