Economia

Cresce temor de que preço do petróleo suba para mais de US$ 150

Excesso de oferta de petróleo em todo o mundo nos últimos anos mascarou a “falta de investimento crônica”, segundo a firma de pesquisa Sanford C. Bernstein

O petróleo atingiu o maior patamar em mais de três anos (Christian Hartmann/Reuters)

O petróleo atingiu o maior patamar em mais de três anos (Christian Hartmann/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 9 de julho de 2018 às 13h19.

Última atualização em 9 de julho de 2018 às 13h20.

Os investidores em petróleo podem se arrepender de terem exortado as empresas a distribuir dinheiro agora em vez de investir em crescimento para depois, já que a falta de exploração prepara o cenário para uma alta sem precedentes do preço do petróleo, segundo a Sanford C. Bernstein.

As empresas têm sido obrigadas a se concentrar em aumentar os retornos e as distribuições aos acionistas às custas dos gastos de capital destinados a encontrar novas reservas, escreveram analistas, entre eles Neil Beveridge, em nota publicada nesta sexta-feira.

Por isso, as reservas das maiores produtoras caíram, e o índice de reinvestimento do setor atingiu o menor patamar em uma geração, o que abre caminho para que os preços do petróleo ultrapassem os níveis recorde alcançados na última década, segundo Bernstein.

“Os investidores que haviam incitado as equipes de gestão a frear o gasto de capital e devolver dinheiro lamentarão a falta de investimentos no setor”, escreveram os analistas. “Qualquer escassez de oferta provocará uma disparada nos preços, possivelmente bem maior que a alta que levou o barril a US$ 150 em 2008.”

As maiores petroleiras do mundo, incluindo Royal Dutch Shell e BP, superaram o colapso dos preços em 2014 reduzindo custos, vendendo ativos e contraindo dívidas para ajudar a satisfazer os investidores com dividendos significativos.

A maior, a Exxon Mobil, foi punida pelos acionistas no início do ano após uma série de resultados decepcionantes com um enorme plano de investimentos e a falta de recompras.

O excesso de oferta de petróleo em todo o mundo nos últimos anos mascarou a “falta de investimento crônica”, afirma a Bernstein no relatório.

O petróleo atingiu o maior patamar em mais de três anos depois que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados começaram a limitar a produção, no início do ano passado, para reduzir a abundância global. Os produtores agora pretendem extrair mais para ajudar a esfriar o mercado, mas interrupções em países como Líbia e Venezuela estão mantendo os preços altos.

As reservas comprovadas das maiores petroleiras do mundo caíram em média mais de 30 por cento desde 2000, e apenas Exxon e BP mostraram melhora, ajudadas por aquisições, informou a Bernstein.

Ao mesmo tempo, mais de 1 bilhão de pessoas migrarão para cidades na Ásia nas próximas duas décadas, o que ampliará a demanda por carros, viagens aéreas, fretes rodoviários e plástico, que também exige petróleo, segundo a Bernstein.

“Se a demanda por petróleo continuar crescendo até 2030 e depois disso, a estratégia de devolver dinheiro aos acionistas e investir pouco em reservas acabará sendo a semente do próximo superciclo”, escreveram os analistas. “As empresas que tiverem barris por produzir ou oferecerem os serviços para extraí-los serão as escolhas certas, não ficarão para trás.”

O barril de petróleo Brent atingiu a maior alta da história em 2008, US$ 147, devido ao forte crescimento da demanda e à falta de recursos imediatamente disponíveis, o que alimentou um aumento sincronizado das commodities apelidado de superciclo.

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