Selic: projeções para a taxa básica de juros no fim do ciclo de afrouxamento variam de 4% a 4,75%, com oito casas estimando Selic a 4% (SOPA Images/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de outubro de 2019 às 08h08.
São Paulo — Com a inflação surpreendendo para baixo, a recuperação econômica ainda lenta e a taxa de câmbio menos volátil, o mercado enxerga que o Banco Central será mais agressivo no corte dos juros. Segundo levantamento do 'Estadão/Broadcast' com bancos, consultorias e gestoras, a estimativa de uma Selic, a taxa básica de juros, a 4,5% em 2020 é predominante. Nos últimos dias, porém, as apostas de 4% ganharam força.
A Selic já está em um patamar historicamente baixo. Ainda assim, as apostas para a reunião deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, são unânimes em queda de 5,5% para 5%. Em dezembro, na última reunião de 2019, deve haver outro corte de 0,5 ponto porcentual, fazendo a Selic terminar o ano em 4,5%, segundo 23 de 32 casas ouvidas.
Em levantamento feito pelo Estadão/Broadcast após a reunião do Copom de setembro, a maioria das apostas para a taxa de juros no fim de 2019 era de 4,75% e havia apenas uma casa estimando que a Selic chegaria a 4% em 2020.
Agora, é crescente o número de casas que acreditam que o alívio monetário deve continuar no primeiro trimestre de 2020. Por isso, as projeções para a taxa básica de juros no fim do ciclo de afrouxamento variam de 4% a 4,75%, com oito casas estimando Selic a 4%.
Apenas nesta segunda-feira, 14, Itaú Unibanco, Banco Fibra e Banco Votorantim cortaram suas projeções para a Selic. As três instituições esperam uma taxa de 4% no fim do ciclo, em 2020. Na última semana, ING e Banco Safra já haviam revisto suas estimativas para 4%. Ativa Investimentos e Genial Investimentos também aguardam corte para 4% no próximo ano.
"O mais importante (para rever a projeção) é que a inflação está baixa, as expectativas de inflação ancoradas e o País caminhando para a consolidação fiscal, com o avanço da reforma da Previdência", disse Felipe Salles, economista do Itaú.
Salles destaca que o ambiente global está mais favorável desde sexta-feira, quando Estados Unidos e China acertaram uma trégua. Esse arrefecimento na guerra comercial, aliado a uma redução gradual da taxa de juros nos Estados Unidos, tende a não pressionar ativos de risco, incluindo o real. Um câmbio mais estável significa menos pressão inflacionária e, portanto, Selic mais baixa.
Em relatório, o Banco Fibria destacou que não descarta a possibilidade de a Selic testar, até mesmo, patamares ainda mais baixos do que 4%. "Julgamos que num cenário alternativo onde a atividade econômica exija estímulos adicionais para acelerar, a política fiscal permaneça apertada e as condições globais permitam, o Copom poderia reduzir a taxa Selic para abaixo de 4% ainda em 2020, mas provavelmente após uma pausa no atual ciclo de afrouxamento monetário."
No banco, a inflação mais baixa e as expectativas ancoradas explicam a revisão para a Selic. O Fibra mudou também a projeção para o IPCA de 2020 de 3,7% para 3,5%.
A surpresa de deflação de 0,04% do IPCA na quarta-feira passadafoi um dos gatilhos para que as casas revissem suas apostas para a Selic. O Bradesco e a Quantitas Asset, por exemplo, passaram a estimar 4,5% no fim do ciclo de afrouxamento monetário, em 2020.
"É um ajuste fino. Com a atividade ainda fraca e a percepção de que não deve ter um choque cambial que inviabilize o cenário de juros, o sinal é de que o BC não deve parar em 4,75%. Mas, para ir além disso, seria necessária uma dinâmica cambial melhor. Esperamos que o câmbio fique relativamente estável, terminando este e o próximo ano em R$ 4", diz o economista João Fernandes, da Quantitas.