Cosenza: "Mercado de trabalho aquecido garante os cheques dos consumidores" (Divulgação/Boa Vista Serviços)
Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2011 às 16h39.
São Paulo – O número de cheques emitidos por empresas que são devolvidos por falta de fundos está crescendo e já pode ser um sinal de desaceleração da economia brasileira.
Não se trata de um efeito das novas turbulências internacionais, mas do aperto monetário promovido pelo Banco Central no primeiro semestre.
Um estudo da Boa Vista Serviços, publicado em primeira mão por EXAME.com, mostra que as devoluções de cheques de pessoas jurídicas cresceram 6,48% entre janeiro e julho deste ano em relação ao mesmo período de 2010.
Quando se olha apenas o mês de julho, o crescimento é ainda maior, de 14,9% (veja gráfico na próxima página com a trajetória desde 2007). Um cheque só é considerado sem fundos após a segunda devolução.
“Historicamente, a pessoa jurídica é a primeira que responde aos movimentos da economia. Quando há uma tendência de aumento na devolução de cheques, o dado da pessoa jurídica aponta para esse aumento primeiro.”, diz Fernando Cosenza, superintendente de sustentabilidade da Boa Vista Serviços.
Cosenza lembra que, no total de cheques sem fundos, há o predomínio de pequenas e médias empresas. “São estabelecimentos que têm muita instabilidade nas receitas. Ao contrário de um trabalhador com carteira registrada que tem o salário garantido no começo do mês, as pequenas empresas dependem das vendas para pagar os fornecedores e funcionários.”
O quadro dos cheques emitidos por pessoas físicas é melhor. No acumulado do ano, os “borrachudos” assinados por consumidores caíram 8,62% em relação ao mesmo período do ano passado. “O mercado de trabalho aquecido e a renda em alta ainda garantem o pagamento dos cheques”, avalia o superintendente da Boa Vista Serviços.
No entanto, a curva das pessoas físicas está seguindo a mesma trajetória observada nas empresas (veja gráfico abaixo). “A tendência é de aumento das devoluções de cheques no médio prazo”, diz Cosenza.
Ainda é cedo, na avaliação do executivo, para avaliar os eventuais impactos das atuais turbulências nesse segmento, mas “o cenário externo deve contribuir para um quadro maior de incerteza em relação à atividade econômica nacional, colaborando para um cenário adverso no que se refere à devolução de cheques nos próximos meses.”
Fernando Cosenza lembra que a inadimplência tem crescido desde outubro do ano passado e os cheques sem fundos são um dos componentes do cálculo desse indicador. O executivo salienta, no entanto, que não está previsto nenhum cenário de caos. “Não esperamos explosão nas devoluções de cheques, nem na inadimplência total.”
A Boa Vista, que administra o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), assumiu recentemente as operações da Equifax do Brasil.