Economia

Crédito via banco público é QE do Brasil, diz professora

A especialista fez uma alusão à política de afrouxamento quantitativo dos Estados Unidos


	BNDES: apenas três bancos públicos são responsáveis por 50% da concessão de financiamentos no país, lembrou a professora
 (Vanderlei Almeida/AFP)

BNDES: apenas três bancos públicos são responsáveis por 50% da concessão de financiamentos no país, lembrou a professora (Vanderlei Almeida/AFP)

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Da Redação

Publicado em 30 de agosto de 2013 às 11h44.

Campos do Jordão - A professora da PUC-RJ, Monica Baumgarten de Bolle, afirmou na manhã desta sexta-feira, 30, que a política do governo de tentar estimular com vigor o consumo através da concessão de crédito por bancos públicos gerou o "QE brasileiro", em alusão à política de afrouxamento quantitativo dos Estados Unidos.

Monica lembrou que apenas três bancos públicos no País são responsáveis por 50% da concessão de financiamentos no país. "A política fiscal mais expansionista tem efeito de alta da pressão inflacionária lá na frente, ainda que possa conter um pouco no curto prazo os preços relativos", disse. "Mas isso causa distorções", destacou.

"O real problema inflacionário do Brasil é que os preços administrados estão rodando a 1,3% ao ano, enquanto os livres estão num ritmo de 8%", destacou. "E fazer isso por longo prazo distorce o equilíbrio dos preços da economia", disse. "A tendência da inflação é de alta e está ocorrendo há muito tempo", ponderou.

De acordo com ela, o governo está fazendo desonerações tributárias para reduzir a carga dos impostos, e aproveitou tais medidas também para combater a inflação. Ela lembrou que o Poder Executivo fez intensas interferências no processo de formação de preços, como o episódio que envolveu o setor de energia.

A professora destacou ainda que desde 2011 as expectativas da inflação estão se descolando em relação a taxa do IPCA, e hoje estão bem distantes do centro da meta de 4,5%. Segundo ela, esse processo longo acabou minando a credibilidade do Banco Central na gestão do sistema de metas de inflação, o que influencia muito as percepções dos agentes econômicos sobre a evolução dos preços no curto prazo. Monica de Bolle fez os comentários durante palestra no sexto Congresso Internacional de Mercados Financeiros e de Capitais realizado pela BM&FBovespa.

Câmbio e inflação

O economista e ex-diretor do Banco Central (BC), Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwarstman & Associados, avaliou, no mesmo evento, que a intervenção recente do governo na taxa de câmbio ocorreu basicamente "para o controle da inflação", diante da alta puxada principalmente pela política fiscal expansionista. "A política fiscal é unidirecional, expansionista e empurra a inflação para cima", disse. "Eu tenho certeza que o Banco Central não quer entregar a inflação na meta, porque senão não teria feito a política fiscal que fez", completou Schwartsman em palestra.

Além da pressão da política fiscal, o controle da inflação ainda está sujeito a um limite para as altas nas taxas de juros, outro instrumento utilizado pelo governo. "Por isso, a taxa de R$ 2,40, ou R$ 2,45 (por dólar), seguirá apreciada por falta de instrumentos", disse o economista. "Há ainda uma instabilidade do arcabouço regulatório do câmbio", com, segundo ele, a redução de agentes no mercado de dólar por conta das mudanças constantes na política cambial.

Durante a palestra, Schwartsman citou quatro variáveis que influenciam o câmbio independente de questões político-econômicas: a variação das commodities internacionais, o valor do dólar ante uma cesta de moedas, os juros e a aversão ao risco. "Toda vez que a aversão ao risco sobe 10%, o real deprecia cerca de 3%. Se os juros sobem aqui 10%, o dólar cai 8%", exemplificou o economista. "Portanto, torna-se difícil dizer qual o nível correto da taxa, sem se referir ao conjunto de variáveis".

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