Economia

Crédito ao consumo não é mais indutor do crescimento

Persistente cautela dos bancos privados na concessão de empréstimos tirou o peso do crédito como fator de estímulo ao crescimento econômico


	Reais: PIB recuou 0,5 por cento entre julho e setembro ante o segundo trimestre, no pior desempenho em quatro anos
 (Sérgio Moraes / Reuters)

Reais: PIB recuou 0,5 por cento entre julho e setembro ante o segundo trimestre, no pior desempenho em quatro anos (Sérgio Moraes / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2013 às 19h30.

São Paulo - A persistente cautela dos bancos privados na concessão de empréstimos tirou o peso do crédito como fator de estímulo ao crescimento econômico, o que ajuda a explicar o recuo do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre, divulgado nesta terça-feira.

Além da maior parcimônia dos bancos privados, que procuraram reduzir sua exposição a risco diante do cenário econômico mais desafiador, os tomadores de crédito também ficaram mais retraídos.

"Lá atrás o crédito puxou a atividade econômica. Hoje ele não contribui para o crescimento", afirmou o analista Luis Miguel Santacreu, da Austin Ratings.

O PIB recuou 0,5 por cento entre julho e setembro ante o segundo trimestre, no pior desempenho em quatro anos, informou nesta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ao comentar os dados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, culpou parcialmente a falta de crédito pelo desempenho pífio da economia. Se o crédito estivesse normal, o Brasil estaria com um crescimento maior, avaliou.

A cautela dos bancos privados na oferta de crédito ganhou força a partir do ano passado, com o objetivo de reduzir riscos e controlar a inadimplência.

A taxa de inadimplência nos créditos para pessoas físicas, que chegou a 8,2 por cento no ano passado, estava em 6,8 por cento em outubro-- número ainda considerado alto pelos bancos. Levando em consideração os créditos para pessoas físicas e jurídicas com recursos livres, a indimplência atingiu o pico de 5,8 por cento no ano passado e caiu para 5 por cento em outubro.

Grandes instituições como Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil têm destacado nos últimos trimestres a redução dos empréstimos para setores considerados de maior risco.


Com isso, houve menor estímulo ao consumo, disse a especialista em crédito e comércio varejista da Tendências, Mariana Oliveira. "O crédito não é mais aquele multiplicador importante do consumo que foi nos últimos anos. Neste ano isso mudou", disse.

As despesas de consumo das famílias tiveram crescimento modesto no terceiro trimestre, de 1 por cento ante o segundo trimestre, enquanto os gastos do governo subiram 1,2 por cento na mesma comparação.

No período, os grandes bancos privados aumentaram sua carteira de crédito a um ritmo anual próximo de 10 por cento, praticamente metade do ritmo registrado antes de 2012, afirmou Santacreu.

Segundo o professor de macroeconomia e finanças do Insper Marcelo Moura, os bancos tendem a reagir preventivamente à menor atividade econômica, para se proteger da inadimplência.

"A retração dos bancos é mais uma consequência do cenário econômico do que uma causa. Mas é claro que isso reforça o cenário que já é ruim, ajuda a explicá-lo", disse.

Em setembro, o Banco Central revisou para baixo a previsão de crescimento do crédito dos bancos privados este ano, de 10 para 6 por cento. Para os bancos públicos, que têm sido muito agressivos na oferta de crédito, o BC aumentou a projeção de 22 para 24 por cento neste ano.

A oferta de crédito deve passar os próximos trimestres por um período de acomodação, avalia o diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Márcio Guedes. "Após a bonança de crédito barato e abundante estamos vivendo uma acomodação que leva tempo".

Já existe uma expectativa de redução no ritmo de concessão de crédito pelos bancos estatais Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil no ano que vem, pois essas instituições precisam se preparar para as regras de Basileia III, com maior reserva de capital.

Essa redução deve ocorrer de forma gradual em 2014, para evitar um efeito mais negativo sobre a economia, afirmou o especialista da Tendências.

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