"Nós precisamos pensar em discutir um juro real muito mais baixo", disse Coutinho (Antonio Cruz/Agência Brasil)
João Pedro Caleiro
Publicado em 12 de setembro de 2017 às 13h44.
Última atualização em 12 de setembro de 2017 às 15h30.
São Paulo - Luciano Coutinho, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), disse que discutiu um nível de juro real mais baixo quando estava no governo.
“Nós precisamos pensar em discutir um juro real muito mais baixo. Perdeu-se uma oportunidade em 2008 e 2009. Tenho consciência tranquila porque discuti internamente essa possibilidade. Não vou dizer quem resistiu”, disse ele.
Na época, o presidente da República era Luis Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda era Guido Mantega e o presidente do Banco Central era Henrique Meirelles, atualmente na Fazenda.
As declarações foram feitas nesta terça-feira (12) em um Fórum organizado pela Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo.
Coutinho disse que “não tem nada que impeça" um juro real mais baixo no Brasil, em torno de 2% considerando a inflação passada.
Ele acredita que "não vai ter uma explosão inflacionária" se isso for feito, mas que o momento para isso já foi perdido.
Sua avaliação é que o Banco Central vem "correndo atrás da curva" com seus cortes, mas acabou "levando truco" da inflação.
Na semana passada, o Banco Central cortou os juros novamente em um ponto percentual (de 9,25% para 8,25%), se aproximando da baixa histórica de 7,25% registrada em 2012.
Na mesma semana foi divulgado que a inflação em agosto ficou abaixo das expectativas do mercado.
A taxa acumulada em 12 meses está abaixo do piso da meta do governo que é de 4,5% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Coutinho também classificou como "total sandice" a nova taxa de juros de longo prazo do BNDES, recentemente aprovada.
Ele disse que o problema da medida foi indexar os juros do banco a uma outra medida de juros altamente volátil e que, segundo ele, tem tendência de alta e não de queda.
"Pode ter feito por pura ideologia e o mercado aplaude com um cinismo brilhante a aparência, não a essência racional" da medida, disse ele.
Coutinho foi presidente do BNDES entre maio de 2007 e maio de 2016.