Economia

Corte não muda questão estrutural, diz analista

Segundo economista da RC Consultores, corte orçamentário não sinaliza uma mudança estrutural por parte do governo


	Já economista-chefe do Crédit Agricole diz que o mercado financeiro deve encarar o contingenciamento de forma "neutra"
 (Antoine Antoniol/Bloomberg News)

Já economista-chefe do Crédit Agricole diz que o mercado financeiro deve encarar o contingenciamento de forma "neutra" (Antoine Antoniol/Bloomberg News)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de maio de 2015 às 19h07.

São Paulo - O corte de R$ 69,9 bilhões do Orçamento da União em 2015, anunciado nesta sexta-feira, 22, é uma boa notícia e é o que pode ser feito no curto prazo.

Mas não sinaliza uma mudança estrutural por parte do governo, avaliou o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores. "O número é isso. É o possível, talvez. Basicamente o que irão poupar é a parte de investimentos, enquanto as despesas relacionadas à máquina do governo deverão continuar crescendo", disse.

O economista considerou a qualidade do contingenciamento "péssima" para uma economia que pensa em se tornar produtiva e aumentar a eficiência.

"Se olharmos no curto e médio prazos, tende a dificultar ainda mais um retorno de competitividade. Diminui o investimento público e, quando aumenta o tributo para cobrir esses gastos correntes, compromete o investimento privado, que também tende a diminuir", reforçou.

De acordo com Caparoz, fazer o ajuste não é tarefa fácil, mas, em sua opinião, o governo deveria reconhecer essa dificuldade e se comprometer em mudar a estrutura do processo, para não precisar fazer outro ajuste daqui a poucos anos.

"(O contingenciamento) vai buscar fechar a conta no final do ano. Olhando em termos estruturais, de geração de emprego e de eficiência, não tem nada. Do jeito que está, daqui a dois anos estaremos discutindo o ajuste fiscal novamente. Não atinge o 'core' (núcleo) do problema", afirmou.

Já o economista-chefe do Crédit Agricole, Vladimir Caramaschi, diz que o mercado financeiro deve encarar o contingenciamento de forma "neutra". Isso porque, segundo ele, o montante do corte anunciado ficou em um "meio termo".

"Se tivessem vindo R$ 80 bilhões, o mercado iria ver como uma vitória do (ministro da Fazenda, Joaquim) Levy. Talvez tivesse alguma comemoração, com um reflexo mais forte de queda dos juros. Se viessem R$ 60 bilhões, ia ter um movimento de decepção e preocupação com a força política do Levy. Mas ficou no meio termo", comentou.

O economista destacou que, na tarde de hoje, o mercado de juros, por exemplo, está reagindo mais aos dados do Caged, "que saiu totalmente fora do esperado".

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o saldo de geração de empregos foi negativo em 97,8 mil postos de trabalho em abril, pior resultado para o mês da série histórica, iniciada em 1992.

Caramaschi destacou que, mesmo com o contingenciamento de cerca de R$ 70 bilhões, continua achando que o governo não alcançará a meta de superávit primário de R$ 66,3 bilhões prometida para 2015.

"Eles vão conseguir algo suficiente para evitar o downgrade, mas não alcançará a meta", afirmou.

Acompanhe tudo sobre:Investimentos de governoGovernoAjuste fiscalOrçamento federal

Mais de Economia

Qual o valor do salário mínimo em 2025? Veja histórico dos últimos 10 anos

Como as novas tarifas de Trump podem mexer no mercado de caminhões

Câmara pode votar MP que tributa LCI, LCA e LCD nesta terça em meio a impasse com agro

'É urgente corrigir limites do Simples': parlamentares querem faixa maior para MEI e pequena empresa