Quarentena no Líbano: forças armadas patrulham as ruas de Beirute desde o último sábado, dia 21, para garantir que ninguém saia de casa. (Hussam Chbaro/Anadolu Agency/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de março de 2020 às 12h27.
Última atualização em 24 de março de 2020 às 15h20.
Com as contas públicas claudicantes desde o ano passado, quando a dívida externa chegou a 155% do PIB, o Líbano mergulhou ainda mais no atoleiro fiscal com a crise provocada pelo coronavírus. Desde o dia 16, boa parte das atividades produtivas estão suspensas, como medida para conter a propagação do vírus. Segundo o ministério da saúde do Líbano, até esta terça-feira, dia 24, o país, de apenas 4 milhões de habitantes, contava mais de 250 infectados e quatro mortos.
Em meio a uma severa crise econômica, o governo vinha enfrentando dificuldade para pagar o salário dos servidores públicos – com isso, várias categorias profissionais entraram em greve ou passaram a reduzir a jornada de trabalho. Médicos e enfermeiros também estão nessa lista. Diante do caos social e econômico inflado pelo coronavírus, nesta segunda-feira, dia 24, o governo libanês comunicou que não irá pagar a dívida do país contraída em eurobônus, avaliada em mais de 30 bilhões de euros. No início do mês, o Líbano já havia optado por dar o calote na quitação da primeira parcela, de 1,2 bilhão de euros, que venceu no dia 9.
Serviços essenciais, com o abastecimento de água e eletricidade, já estavam sendo afetados desde o início do ano pela crise econômica e deficiências de gestão. A área de saúde também foi fortemente atingida, com atendimento apenas parcial em hospitais e clínicas, além de falta de energia elétrica. Foi em meio a essas dificuldades que o Codiv-19 atingiu o país.
O governo decretou quarentena na semana passada. As forças armadas patrulham as ruas de Beirute desde o último sábado, dia 21, para garantir que ninguém saia de casa. Bancos, lojas, mesquitas e igrejas estão fechados. “Os serviços públicos estão falidos, os médicos nem recebem salário. Temos mesmo que fazer quarentena”, diz o fotógrafo Amar Karim, de 32 anos. “O problema é que agora parece que vamos para o buraco de vez”.
Moradores de Beirute relatam que os caixas eletrônicos estão praticamente vazios. Há preocupação também com o abastecimento dos supermercados e o acesso da população a alimentos. A inflação, que chegou a 10% em janeiro, já vinha impactando a capacidade de consumo das famílias. “Agora, o risco é simplesmente o país quebrar e ainda por cima contrairmos coronavírus”, diz Karim.