Economia

Copom reforça alta de juros em maio e manda recado sutil ao governo

Sem mencionar programas anunciados pela gestão petista, diretores do BC alertaram, na ata da última reunião, que política econômica deve manter "canais de política monetária desobstruídos"

Banco Central: No mercado, a maioria dos economistas e investidores acreditam que a elevação será de 0,5 ponto percentual. Segundo o painel de probabilidades da B3, 67% das apostas em opções do Copom indicam alta da Selic nessa magnitude. (Leandro Fonseca/Exame)

Banco Central: No mercado, a maioria dos economistas e investidores acreditam que a elevação será de 0,5 ponto percentual. Segundo o painel de probabilidades da B3, 67% das apostas em opções do Copom indicam alta da Selic nessa magnitude. (Leandro Fonseca/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 25 de março de 2025 às 08h44.

Última atualização em 25 de março de 2025 às 08h59.

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira, 25, voltou a sinalizar que o Banco Central (BC) subirá os juros em maio, mas em menor magnitude, após elevar a taxa para 14,25% ao ano. No mercado, a maioria dos economistas e investidores acredita que a alta será de 0,5 ponto percentual. Segundo o painel de probabilidades da B3, 67% das apostas em opções do Copom indicam alta da Selic nessa magnitude.

O BC não se comprometeu com novas sinalizações de alta de juros após a reunião de maio, mas uma elevação da taxa na reunião de junho está presente no debate.

"Para além da próxima reunião, a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", afirmaram os diretores do BC, na ata.

Recado para o governo

A ata do Copom também trouxe um recado sutil para o governo, em meio ao anúncio de medidas com potencial para turbinar o consumo por meio dos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), do novo consignado privado e da isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil reais. Todas essas medidas têm potencial de pressionar a inflação.

"Com relação à política econômica de forma mais geral, o aspecto mais ressaltado foi a relevância da manutenção de canais de política monetária desobstruídos e sem elementos mitigadores para sua ação. A política monetária atua por diferentes canais, dentre eles o crédito, fazendo com que o volume de empréstimos reaja às condições financeiras e às expectativas, à medida que avaliações sobre o futuro impactam o consumo e o investimento correntes. Para o cumprimento de seu mandato e convergência da inflação à meta com menores custos, a política monetária deve ser capaz de atuar sem impedimentos em todos os canais", informou o BC, na ata.

Pressões inflacionárias e risco fiscal

O BC também voltou a sinalizar que os riscos atuais para a inflação são "altistas". Significa dizer que o Copom entende que a inflação subir ainda mais. São eles:

  • uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;
  • maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função da economia aquecida; e
  • conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.

Segundo os diretores do BC, as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos, aumentaram novamente em todos os prazos, indicando desancoragem adicional, o que torna o cenário de inflação mais adverso.

"A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida. Foi ressaltado que ambientes com expectativas desancoradas aumentam o custo de desinflação em termos de atividade. O cenário de convergência da inflação à meta torna-se mais desafiador com expectativas desancoradas para prazos mais longos e exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado", informaram os diretores do BC, na ata.

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