Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (Adriano Machado/Reuters)
Ligia Tuon
Publicado em 5 de fevereiro de 2020 às 18h21.
Última atualização em 5 de fevereiro de 2020 às 19h09.
São Paulo — O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) cortou em 0,25 ponto percentual a taxa Selic, que foi de 4,5% a 4,25% ao ano.
A decisão desta quarta-feira (05), que já era esperada pelo mercado, foi unânime e leva os juros para uma nova mínima histórica.
O comunicado indica, no entanto, que este foi o último corte. A Selic está em queda desde julho de 2019, quando estava em 6,5%.
"O BC diz na ata que a potência da politica monetária aumentou. Isso também parece justificar a decisão do Copom de pré-anunciar o fim do ciclo. O aumento dessa potência implica uma expectativa que a economia ainda vai reagir aos estímulos que já foram feitos", diz Maurício Oreng, superintendente de pesquisas macroeconômicas do Santander Brasil.
Na reunião de dezembro, o Copom havia deixado em aberto se faria ou não um novo corte neste primeiro encontro de 2020.
Mas desde então, foram divulgados vários dados decepcionantes de setores como indústria e serviços no final do ano passado, sugerindo que há espaço para aquecer ainda mais a atividade econômica.
Também apareceu um fenômeno novo no cenário: o coronavírus, que gerou pânico nos mercados e incerteza sobre o crescimento da China, a maior parceira comercial do Brasil.
O dólar também disparou, mas o pico das últimas semanas é visto como temporário e não desancorou as expectativas de inflação.
O Copom avalia que, no cenário externo, apesar do recente aumento de incerteza, ainda há um ambiente relativamente favorável para economias emergentes. "Por outro lado, no cenário doméstico, a avaliação é de que as diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis compatíveis – não mais “confortáveis” - com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária", diz a consultoria 4E em nota.
No último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (02), a projeção de 2020 para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, caiu de 3,47% para 3,40%.
É uma margem confortável para choques, já que o centro da meta é de 4% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (5,5%) ou para baixo (2,5%).
"A economia ainda vai reagir, saindo de um crescimento de 1% para 2% ao ano. O potencial do país hoje ainda é 1%, mas tende a ir para 2%. A dúvida agora é quando vai ser o processo de normalização, Na nossa previsão, os juros não sobem neste ano, começarão a subir a partir do segundo trimestre de 2021 e deve terminar o ano que vem a 6% ao ano", diz Oreng.
Mais detalhes serão conhecidos com a publicação da ata da reunião de hoje, prevista para a próxima terça-feira (11).
Em sua 228ª reunião, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 4,25% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
Dados de atividade econômica divulgados desde o último Copom indicam a continuidade do processo de recuperação gradual da economia brasileira;
No cenário externo, apesar do recente aumento de incerteza, o caráter acomodatício da política monetária nas principais economias ainda tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes;
O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária;
As expectativas de inflação para 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,4%, 3,75% e 3,5%, respectivamente;
No cenário híbrido com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante a R$4,25/US$*, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,5% para 2020 e 3,7% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2020 em 4,25% a.a. e se eleva até 6,00% a.a. em 2021; e
No cenário com taxa de juros constante a 4,50% a.a. e taxa de câmbio constante a R$4,25/US$*, as projeções situam-se em torno de 3,5% para 2020 e 3,8% para 2021.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) o atual grau de estímulo monetário, que atua com defasagens sobre a economia, pode elevar a trajetória da inflação acima do esperado no horizonte relevante para a política monetária. O risco (ii) se intensifica no caso de (iii) aumento da potência da política monetária decorrente das transformações na intermediação financeira e no mercado de crédito e capitais, (iv) deterioração do cenário externo para economias emergentes ou (v) eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 4,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e o balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2020 e, com peso crescente, o de 2021.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
O Copom avalia que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.
O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. Considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento iniciado em julho de 2019, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária. O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação, com peso crescente para o ano-calendário de 2021.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (Presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fábio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.