Economia

Copom não deve cumprir meta de inflação até junho e pode prolongar ciclo de alta de juros

Projeções do Banco Central indicam que inflação acumulada em 12 meses ficará acima do teto da meta entre janeiro e junho. Se esse cenário se concretizar, Galípolo escreverá carta aberta

Banco Central: membros do Copom alertam que a desancoragem de expectativas de inflação pode pressionar salários (Leandro Fonseca/Exame)

Banco Central: membros do Copom alertam que a desancoragem de expectativas de inflação pode pressionar salários (Leandro Fonseca/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 4 de fevereiro de 2025 às 08h52.

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira, 4, informou que o resultado da inflação nos próximos seis meses, ao considerar o resultado acumulado em 12 meses, deve levar ao descumprimento da meta. Caso esse cenário se confirme, o presidente da autoridade monetária, Gabriel Galípolo, será obrigado a escrever uma carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para explicar os motivos desse desempenho e que medidas serão tomadas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) convergir para o intervalo de tolerância.

"Foi destacado, na análise de curto prazo, que, em se concretizando as projeções do cenário de referência, a inflação acumulada em doze meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos. Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas", informou o Copom, na ata.

O novo regime criado no governo Luiz Inácio Lula da Silva, que vale desde 1º de janeiro, define que a meta foi descumprida quando a inflação, medida pela variação acumulada em doze meses, desviar-se por seis meses consecutivos da faixa do respectivo intervalo de tolerância. O objetivo central perseguido pelo BC é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual. Com isso, o resultado pode variar entre 1,5% e 4,5%.

Desancoragem de expectativas

A ata do Copom também trouxe longa análise sobre a desancoragem das expectativas de inflação. Segundo os diretores do BC,  esse processo de desancoragem leva a reajustes de preços e salários acima da meta, o que requer uma política mais contracionista do que alternativamente seria necessária se não houvesse tal desancoragem. Na prática, significa que os juros ficarão mais altos por mais tempo ou que as taxas precisam ser elevadas ainda mais do estava previsto inicialmente.

"O Comitê avalia que tal risco permanece à medida que a desancoragem se torna persistente e altera a magnitude e a frequência de reajustes de preços e salários. Outro risco bastante presente é com relação ao grau de sobreaquecimento da economia, em particular, seus efeitos sobre a inflação de serviços. Ao longo dos últimos trimestres, como resultado dos dados de atividade e da atualização do cenário, o Comitê alterou sua avaliação sobre o grau de aquecimento da economia, passando a avaliar que o hiato do produto é positivo", informou o Copom, na ata.

Os efeitos do câmbio na inflação corrente e nas expectativas também é um fator de atenção para os membros do Copom. Segundo a ata, os diretores do BC acompanharam com atenção atenção os movimentos do câmbio, que tem reagido, notadamente, às notícias fiscais domésticas, às notícias da política econômica norte-americana e ao diferencial de juros.

"A consecução de determinadas políticas nos Estados Unidos pode pressionar os preços de ativos domésticos. Avaliou-se, então, que seguia válida a visão anterior da possibilidade de uma elevação de inflação a partir de uma taxa de câmbio mais depreciada. Desse modo, ainda que parte dos riscos tenha se materializado, o Comitê julgou que eles seguem presentes prospectivamente", informou o BC.

Ciclo de alta de juros

O Copom voltou a sinalizar que aumentará a taxa de juros em 1 ponto percentual na reunião de março, o que levará a Selic para 14,25% ao ano. Os diretores também voltaram a afirmar a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Com base nessas indicações do BC, é possível avaliar que as expectativas de inflação tendem a continuar pressionadas sem medidas fiscais que enderecem o problema da trajetória de crescimento da dívida pública. Além disso, os membros do Copom já sinalizaram que a inflação corrente seguirá alta, o que levará ao descumprimento da meta, pelo menos, até junho.

Diante desse cenário, o BC pode estender o ciclo de alta de juros, como prevê parte do mercado, e a Selic pode chegar a 15% ou mais.

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