Economia

Copom mantém juros inalterados em 6,5% pela sétima vez seguida

A decisão foi por unanimidade e veio de acordo com o esperado pelo mercado, de acordo com o último Boletim Focus

Ilan Goldfajn: Presidente do Banco Central não vai permanecer no comando da autoridade monetária (Ueslei Marcelino/Reuters)

Ilan Goldfajn: Presidente do Banco Central não vai permanecer no comando da autoridade monetária (Ueslei Marcelino/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 6 de fevereiro de 2019 às 18h21.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2019 às 18h58.

São Paulo - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira (06) a manutenção da taxa Selic em 6,5%.

É a sétima vez seguida que os juros ficam inalterados nesta patamar, o mais baixo desde que a Selic passou a ser usada como referência em 1996.

A decisão foi por unanimidade e confirma a expectativa do mercado, de acordo com o Boletim Focus divulgado na segunda-feira (06).

Riscos

O comunicado destaca que a economia brasileira segue em "recuperação gradual" e com inflação confortável, enquanto o cenário externo permanece desafiador mas com "alguma redução e alteração do perfil de riscos".

Por um lado, caiu o risco de curto prazo após o Federal Reserve, banco central americano, ter mudado de tom na reunião da semana passada e adiado novas altas de juros por enquanto.

Isso tira uma fonte de pressão sobre as taxas dos mercados emergentes, que competem com os EUA por recursos.

"Por outro lado, aumentaram os riscos associados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas, como as disputas comerciais e o Brexit", completa o comunicado.

No cenário doméstico, o risco positivo é que a inflação fique ainda mais fraca devido à ociosidade econômica, e o risco negativo é uma "frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira" que pode afetar prêmios de risco. 

Futuro

Este foi o primeiro encontro do Copom no ano mas o último da gestão de Ilan Goldfajn, que preside a instituição desde junho de 2016.

"O Copom avalia que cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas", diz o encerramento do comunicado, em tom de balanço.

A próxima reunião está marcada para os dias 19 e 20 de março e já deve acontecer sob o comando de Roberto Campos Neto, escolhido de Jair Bolsonaro para o posto.

Ele ainda precisa ser sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e aprovado tanto lá quanto em plenário. 

O último Boletim Focus apontou pela primeira vez uma expectativa de que a taxa de juros termine 2019 ainda em 6,5%.

Na semana anterior, a projeção era que os juros subiriam e fechariam o ano em 7%. A expectativa para o final de 2010 permanece em 8%.

Veja o comunicado completo:

"O Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 6,50% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

Indicadores recentes da atividade econômica continuam evidenciando recuperação gradual da economia brasileira;

O cenário externo permanece desafiador, mas com alguma redução e alteração do perfil de riscos.  Por um lado, diminuíram os riscos de curto prazo associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas. Por outro lado, aumentaram os riscos associados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas, como as disputas comerciais e o Brexit;

O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis apropriados ou confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;

As expectativas de inflação para 2019, 2020 e 2021 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,9%, 4,0% e 3,75%, respectivamente; e

No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,9% para 2019 e 3,8% para 2020. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 6,5% a.a. e se eleva a 8,00% a.a. em 2020. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$/US$ 3,70 e 2020 em R$/US$ 3,75. No cenário com juros constantes a 6,50% a.a. e taxa de câmbio constante a R$/US$ 3,70*, as projeções situam-se em torno de 3,9% para 2019 e 4,0% para 2020.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções, mas com maior peso nos dois últimos riscos, portanto, com assimetria. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária.

Esse risco se intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário externo para economias emergentes.  O Comitê avalia que, desde o último Copom, especialmente quanto ao cenário externo, houve arrefecimento dos riscos inflacionários.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa básica de juros em 6,50% a.a.

O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2019 e, com peso menor e gradualmente crescente, de 2020.

O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Comitê enfatiza que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia.  O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.

Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente. O Copom ressalta que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

O Copom avalia que cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Carlos Viana de Carvalho, Carolina de Assis Barros, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.

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