Economia

Copom leva juros de 12,25% para 11,25%, o maior corte em 8 anos

Foi o quinto corte seguido da Selic, mas com aceleração do ritmo, já que as duas últimas reduções haviam sido de 0,75 ponto percentual.

Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn (Ueslei Marcelino/Reuters)

Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn (Ueslei Marcelino/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 12 de abril de 2017 às 18h03.

Última atualização em 12 de abril de 2017 às 18h16.

São Paulo - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira um corte de 1 ponto percentual nos juros, que foram de 12,25% para 11,25% ao ano.

A decisão foi por unanimidade e sem viés. Foi o quinto corte seguido da Selic, mas com aceleração do ritmo, já que os dois últimos cortes haviam sido de 0,75 ponto percentual.

O corte maior já estava prevista pelo mercado, de acordo com o último Boletim Focus e uma pesquisa recente da Reuters, mas alguns apostavam em uma redução ainda maior.

Ainda assim, foi o maior corte da Selic em mais de 8 anos. Em janeiro de 2009, a taxa havia sido cortada de 12,75% para 11,25% em reação ao agravamento da crise financeira.

Ainda assim, o Brasil segue campeão mundial de juros reais, de acordo com ranking do site MoneYou com a Infinity Asset Management.

Inflação

O Banco Central se sentiu confortável para fazer um corte maior porque a trajetória atual da inflação é de queda livre.

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do primeiro trimestre de 2017 foi o mais baixo para o período desde o início do Plano Real em 1994.

Quando o Copom aumenta os juros, encarece o crédito e estimula a poupança, o que faz com que a demanda seja contida e faça menos pressão sobre a atividade e os preços. Cortar os juros causa o efeito contrário.

A meta de inflação para 2017 é de 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Em seu Relatório Trimestral de Inflação divulgado no final de março, o BC apontou uma expectativa de inflação de 4% em 2017 e 4,5% em 2018.

O texto aponta a "possibilidade de uma intensificação moderada do ritmo de flexibilização da política monetária".

A ata será divulgada na próxima terça-feira, dia 18. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 30 e 31 de maio.

Veja o comunicado completo:

"O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic em um ponto percentual, para 11,25% a.a., sem viés.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

O conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom permanece compatível com estabilização da economia no curto prazo. A evidência sugere uma retomada gradual da atividade econômica ao longo de 2017;

No âmbito externo, o cenário ainda é bastante incerto. Entretanto, até o momento, esse cenário tem mitigado os efeitos sobre a economia brasileira de possíveis revisões de política econômica em algumas economias centrais, notadamente nos EUA. Há incerteza sobre a sustentabilidade do crescimento econômico global e sobre a manutenção dos níveis correntes de preços de commodities;

O comportamento da inflação permanece favorável. O processo de desinflação se difundiu e houve consolidação da desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária. A desinflação dos preços de alimentos constitui choque de oferta favorável;

As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,1% para 2017, mantiveram-se ao redor de 4,5% para 2018 e, para 2019 e horizontes mais distantes, encontram-se ligeiramente abaixo de 4,5%; e

No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom encontram-se em torno de 4,1% em 2017 e mantiveram-se ao redor de 4,5% para 2018. Esse cenário supõe trajetória de juros que alcança 8,5% a.a. ao final de 2017 e se mantém nesse nível até o final de 2018.

O Comitê ressalta que seu cenário básico para a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções: (i) o alto grau de incerteza no cenário externo pode dificultar o processo de desinflação; (ii) a aprovação e implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia são relevantes para a sustentabilidade da desinflação e para a redução da taxa de juros estrutural; (iii) o choque de oferta favorável nos preços de alimentos pode produzir efeitos secundários e, portanto, contribuir para quedas adicionais das expectativas de inflação e da inflação em outros setores da economia; e (iv) a recuperação da economia pode ser mais (ou menos) demorada e gradual do que a antecipada.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros em um ponto percentual, para 11,25% a.a., sem viés. Essa intensificação moderada em relação ao ritmo das reuniões de janeiro e fevereiro mostra-se, no momento, adequada. O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2017 e, com peso gradualmente crescente, de 2018, é compatível com o processo de flexibilização monetária.

O Copom entende que a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira, que continuarão a ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo, mas também da evolução da atividade econômica, dos demais fatores de risco mencionados acima e das projeções e expectativas de inflação.

O Copom ressalta que o ritmo de flexibilização monetária dependerá da extensão do ciclo pretendido e do grau de sua antecipação, que por sua vez dependerá da evolução da atividade econômica, dos demais fatores de risco mencionados acima, e das projeções e expectativas de inflação. O Comitê considera o atual ritmo adequado, entretanto, a atual conjuntura econômica recomenda monitorar a evolução dos determinantes do grau de antecipação do ciclo.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Luiz Edson Feltrim, Otávio Ribeiro Damaso, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel."

 

Acompanhe tudo sobre:CopomIlan GoldfajnInflaçãoJurosPolítica monetáriaSelic

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto