Economia

Copom inicia discussão da Selic nesta terça-feira

A recente inflação de janeiro, que ficou no menor patamar em quase 40 anos, tem sido usada como argumento de pressão para o Comitê acelerar o passo

Copom: analistas reconhecem que há algum espaço para ação mais agressiva, mas a maioria absoluta acredita que o BC manterá o ritmo (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Copom: analistas reconhecem que há algum espaço para ação mais agressiva, mas a maioria absoluta acredita que o BC manterá o ritmo (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de fevereiro de 2017 às 21h09.

Brasília - Após a surpresa com o corte do juro em janeiro, o Banco Central volta a se reunir nesta terça-feira, 21, e quarta-feira, 22, diante da firme aposta do mercado financeiro de que o ritmo de redução da taxa básica (Selic) continuará em 0,75 ponto porcentual.

A recente inflação de janeiro, que ficou no menor patamar em quase 40 anos, mexeu com os ânimos e tem sido usada como argumento de pressão - até mesmo no próprio governo - para que o Comitê liderado por Ilan Goldfajn acelere o passo.

Analistas reconhecem que há algum espaço para ação mais agressiva, mas a maioria absoluta dos economistas e de analistas do mercado financeiro - como mostrou levantamento do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado - acredita que o BC manterá o ritmo.

Parece não haver dúvida entre analistas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC continuará com o processo de desaperto da economia.

Das 68 instituições financeiras ouvidas pelo Projeções Broadcast, 67 apostam em corte do juro de 0,75 ponto, de 13,00% para 12,25% ao ano. Apenas uma casa prevê redução mais agressiva, de 1 ponto, o que levaria a Selic para 12%.

Confirmado qualquer um dos dois cenários, esse terá sido o quarto corte seguido do juro, no processo iniciado em outubro de 2016.

O pano de fundo para o movimento é a clara tendência de desaceleração dos preços. O dado mais recente do índice oficial de inflação, o IPCA, mostrou alta de 0,38% em janeiro, no menor patamar da série, iniciada em 1979.

Esse dado, aliás, foi amplamente comemorado pelo governo e serviu como gatilho para a nova onda de pressão sobre o BC.

O presidente Michel Temer voltou a falar publicamente do tema e lembrou que o governo conseguiu reduzir a inflação pela metade em poucos meses, do pico de 10,7% para os atuais 5,35% no acumulado em 12 meses.

Esses números têm motivado autoridades e empresários, que cobram pressa na redução dos juros para acelerar a retomada da atividade.

Economista de formação, o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), defendeu abertamente a queda de um ponto porcentual.

Ao comentar que falava "como economista", argumentou que a inflação está em trajetória descendente, os preços administrados estão controlados e não há pressão pelo câmbio.

Apesar do discurso aberto de um dos "homens fortes" de Temer, a pressão política dentro do governo parece menos intensa que a vista em janeiro.

Na equipe econômica, há percepção de que a surpresa da reunião passada amenizou a ansiedade de alguns setores - o que estaria suavizado a pressão sobre o BC.

O próprio presidente Temer adotou tom ameno.

"Evidentemente, os juros vão caindo também responsavelmente, porque é importante que os juros reais sejam incentivadores do investimento. Mas o mais importante nisso tudo, é exata e precisamente a confiança. E a confiança vem sendo restabelecida", disse nesta segunda-feira, 20, evento em São Paulo.

O chefe de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, reconhece que o espaço para a redução do juro cresce à medida que as expectativas para a inflação cedem.

Ele cita como exemplo a "grande possibilidade de que a inflação terminará 2017 em 4,5% ou abaixo".

Mesmo assim, prevê queda de 0,75 ponto pelo cenário externo. "A alta do juro em dólar e o aumento do peso das incertezas globais demandam cautela contra eventual excesso no ciclo de afrouxamento", diz.

Mesmo assim, Ramos não descarta ação mais agressiva do BC em breve.

"Levando-se em conta que o Copom cortará 0,75 ponto, nós procuraremos mudanças nos indicadores que podem sinalizar ou sugerir a abertura da porta para aceleração nos cortes para 1 ponto na reunião de 12 de abril", afirma o economista.

O diretor de gestão de renda fixa e multimercados da Quantitas Gestão de Recursos, Rogério Braga, afirma que a janela para cortes maiores da Selic, de 1 ponto porcentual, ficará aberta até o fim do primeiro semestre. Até lá, o Copom se reúne nesta semana, em abril e em maio.

"É possível que o BC caminhe para 1 ponto, dependendo de como a inflação caminhar. A inflação corrente despencou muito rápido", lembrou.

"Só que quanto mais baixo estiver a Selic, mais perto do ponto de equilíbrio ela estará. Então, menor a probabilidade de o BC acelerar os cortes. Se o BC não fizer essa aceleração no primeiro semestre de 2017, é difícil fazer depois."

Na tarde desta segunda, no mercado futuro da BM&FBovespa, os ativos ligados a juros indicavam cerca de 16% de chances de o Copom reduzir a Selic em 1 ponto porcentual já na reunião desta semana.

Os outros 84% das apostas são de que o corte será de 0,75 ponto porcentual.

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