Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central (Adriano Machado/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 16 de maio de 2018 às 18h02.
Última atualização em 16 de maio de 2018 às 19h12.
São Paulo - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu hoje, por unanimidade, manter a taxa básica de juros da economia em 6,5%.
A decisão surpreendeu a maior parte do mercado, que esperava um novo corte de 0,25 ponto percentual (segundo o último Boletim Focus) com base no que o BC vinha comunicando desde a reunião de março.
O texto de hoje justifica que o cenário externo "tornou-se mais desafiador e apresentou volatilidade" desde então.
"A evolução dos riscos, em grande parte associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas, produziu ajustes nos mercados financeiros internacionais. Como resultado, houve redução do apetite ao risco em relação a economias emergentes", diz o comunicado.
Alguns analistas e instituições, como o Bank of America Merrill Lynch, já vinham apostando na manutenção da taxa diante das turbulências recentes.
Foi a primeira manutenção da Selic após 12 cortes seguidos. A taxa segue no menor patamar de sua história e não deve sofrer reduções adicionais, segundo o comunicado.
O Copom estava diante de um dos cenários mais complexos dos últimos tempos, dando contornos "dramáticos" para suas escolhas, nas palavras do banco JP Morgan.
Por um lado, os últimos dados de varejo, indústria e outros setores vem mostrando que o ritmo de retomada da atividade econômica é bem mais lento do que o esperado.
O último Boletim Focus reduziu as projeções para o ano de 2018 tanto para inflação quanto para crescimento, o que em tese daria margem para juros menores.
O comunicado de hoje reconhece um "arreferecimento" da recuperação, classificada como "consistente, mas gradual".
A justificativa para interromper os cortes vem mais do cenário externo turbulento por trás da fraqueza do Real, que recentemente chegou na sua menor taxa em relação ao dólar dos últimos 2 anos.
Mas também conta o cenário doméstico, com as últimas pesquisas eleitorais mostrando a força de candidatos extremados (como Jair Bolsonaro) e pouco impulso de candidaturas que encampem a agenda de reformas consideradas necessárias para a sustentabilidade fiscal, como a da Previdência.
"O Comitê enfatiza que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira contribui para a queda da sua taxa de juros estrutural", diz o comunicado do BC. Veja na íntegra:
"O Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 6,50% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
Os últimos indicadores de atividade econômica mostram arrefecimento, num contexto de recuperação consistente, mas gradual, da economia brasileira;
O cenário externo tornou-se mais desafiador e apresentou volatilidade. A evolução dos riscos, em grande parte associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas, produziu ajustes nos mercados financeiros internacionais. Como resultado, houve redução do apetite ao risco em relação a economias emergentes;
O Comitê julga que o comportamento da inflação permanece favorável, com diversas medidas de inflação subjacente em níveis ainda baixos, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;
As expectativas de inflação para 2018 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,5%. As expectativas para 2019 e 2020 situam-se em torno de 4,0%; e
No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,6% para 2018 e de 3,9% para 2019. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2018 em 6,25% a.a. e 2019 em 8,0% a.a. e de taxa de câmbio que termina 2018 e 2019 em R$/US$ 3,40. No cenário com juros constantes a 6,50% a.a. e taxa de câmbio constante a R$/US$ 3,60*, as projeções situam-se em torno de 4,0% para 2018 e 2019.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, a (i) possível propagação, por mecanismos inerciais, do nível baixo de inflação pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. Esse risco se intensifica no caso de (iii) continuidade da reversão do cenário externo para economias emergentes. Esse último risco se intensificou desde o último Copom.
O Copom entende que deve pautar sua atuação com foco na evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica. Choques externos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva (i.e. na propagação a preços da economia não diretamente afetados pelo choque). Esses choques, entretanto, podem alterar o balanço de riscos ao reduzir as chances de a inflação ficar abaixo da meta no horizonte relevante, por meio de seus possíveis efeitos secundários.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa básica de juros em 6,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a mudança recente no balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2018 e, em maior grau, de 2019.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
O Comitê enfatiza que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira contribui para a queda da sua taxa de juros estrutural. As estimativas dessa taxa serão continuamente reavaliadas pelo Comitê.
Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e, principalmente, do balanço de riscos tornou desnecessária uma flexibilização monetária adicional para mitigar o risco de postergação da convergência da inflação rumo às metas. Para as próximas reuniões, o Comitê vê como adequada a manutenção da taxa de juros no patamar corrente. O Copom ressalta que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Carlos Viana de Carvalho, Carolina de Assis Barros, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel.
* Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.