Economia

Copom reduz juros de 6,75% para 6,5% e sinaliza novo corte em maio

Comunicado surpreende mercado ao indicar como "apropriada uma flexibilização monetária moderada adicional" na próxima reunião

Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central, em entrevista em Brasília (Andre Coelho/Bloomberg)

Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central, em entrevista em Brasília (Andre Coelho/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 21 de março de 2018 às 18h01.

Última atualização em 20 de junho de 2018 às 15h20.

São Paulo - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central fez nesta quarta-feira (21) um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, que foi de 6,75% para 6,5%.

Foi o 12º corte seguido da Selic e o segundo neste patamar. Com isso, a taxa atingiu novamente seu menor valor histórico desde que passou a ser usada como referência em 1996.

A decisão foi unânime e já era esperada pela maior parte do mercado. 36 dos 41 economistas consultados pela Reuters previam o corte de 0,25 p.p., enquanto 5 esperavam manutenção.

O comunicado diz que "o cenário básico para a inflação evoluiu de forma mais benigna que o esperado nesse início de ano" e surpreendeu ao sinalizar mais um corte na taxa:

"Para a próxima reunião, o Comitê vê, neste momento, como apropriada uma flexibilização monetária moderada adicional".

A ata do encontro de hoje será divulgada na próxima terça-feira (27) e a próxima reunião está marcada para os dias 15 e 16 de maio.

Maurício Molan, economista-chefe do Santander, diz que o mercado não estava precificando um novo corte e que esta nova orientação deve favorecer o Ibovespa na abertura amanhã.

Histórico

Na reunião de março, o Copom começou a falar em fim do ciclo de afrouxamento monetário, mas a aposta do mercado no espaço para novos cortes foi crescendo desde então.

O motivo principal foram os dados mostrando contínua fraqueza da inflação. A taxa de fevereiro, por exemplo, foi a mais baixa para o mês desde 2000.

O Boletim Focus divulgado na última segunda-feira (19) reduziu pela sétima semana seguida a projeção para o IPCA em 2018.

A estimativa caiu de 3,67% para 3,63%, ainda abaixo da meta do governo, que é de 4,5% com tolerância de um 1,5 ponto para baixo (3%) ou para cima (6%).

Quando o Copom aumenta os juros, encarece o crédito e estimula a poupança, o que faz com que a demanda seja contida e faça menos pressão sobre a atividade e os preços. Cortar os juros causa o efeito contrário.

Veja o comunicado completo do Copom:

"O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 6,50% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

O conjunto dos indicadores de atividade econômica mostra recuperação consistente da economia brasileira;

O cenário externo tem se mostrado favorável, na medida em que a atividade econômica cresce globalmente.  Isso tem contribuído até o momento para manter o apetite ao risco em relação a economias emergentes;

O Comitê julga que o cenário básico para a inflação evoluiu de forma mais benigna que o esperado nesse início de ano. O comportamento da inflação permanece favorável, com diversas medidas de inflação subjacente em níveis baixos, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;

As expectativas de inflação para 2018 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,6%. As expectativas para 2019 e 2020 situam-se em torno de 4,2% e de 4,0%, respectivamente; e

No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,8% para 2018 e de 4,1% para 2019. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2018 em 6,5% e 2019 em 8,0%.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, a (i) possível propagação, por mecanismos inerciais, do nível baixo de inflação pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária.  Esse risco se intensifica no caso de (iii) reversão do corrente cenário externo favorável para economias emergentes.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 6,50% a.a. O Comitê entende que esse movimento é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2018 e, com peso gradualmente crescente, de 2019.

O Copom entende que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Comitê enfatiza que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira contribui para a queda da sua taxa de juros estrutural.  As estimativas dessa taxa serão continuamente reavaliadas pelo Comitê.

A evolução do cenário básico tornou adequada a redução da taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual nesta reunião. Para a próxima reunião, o Comitê vê, neste momento, como apropriada uma flexibilização monetária moderada adicional. O Comitê julga que este estímulo adicional mitiga o risco de postergação da convergência da inflação rumo às metas. Essa visão para a próxima reunião pode se alterar e levar à interrupção do processo de flexibilização monetária, no caso dessa mitigação se mostrar desnecessária. Para reuniões além da próxima, salvo mudanças adicionais relevantes no cenário básico e no balanço de riscos para a inflação, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária, visando avaliar os próximos passos, tendo em vista o horizonte relevante naquele momento. O Copom ressalta que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel."
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