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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h23.
Os consumidores iniciaram o terceiro trimestre mais dispostos para adquirir bens duráveis e semiduráveis. O valor médio que planejam desembolsar por esses produtos também cresceu em comparação com o segundo trimestre, segundo mostra a pesquisa da Fundação Instituto de Administração (FIA) sobre expectativas de consumo. "Esses resultados demonstram a confiança dos consumidores sobre a economia", afirma o diretor-presidente da FIA, Claudio Felisoni de Angelo. A pesquisa, divulgada nesta terça-feira (6/7), identifica as previsões de consumo para o período de julho a setembro.
O estudo avalia a intenção de compra (quantos consumidores querem adquirir bens) e de gastos (quanto se dispõem a pagar pelos produtos) na cidade de São Paulo em relação a nove segmentos. A conclusão é que, em todos os setores, aumentou a disposição para compras nos próximos três meses. A intenção de compra de produtos da linha branca cresceu 33,3% em relação ao segundo trimestre. Os materiais de construção apresentaram alta de 37,3%. Já as intenções para o setor de cama, mesa e banho cresceram 79,1% sobre os últimos três meses, puxadas pelo inverno.
No levantamento, foram entrevistados 408 consumidores adultos. Do total, 42,6% afirmaram que não pretendem comprar nenhum item pertencente aos nove segmentos até setembro. Essa porcentagem representa uma queda acentuada no índice de pessoas que não desejam realizar compras. Desde o último trimestre de 2002, a indisposição às compras não parava de subir. Naquele período, 27,5% dos entrevistados afirmaram que não desejavam comprar nenhum bem durável ou semidurável nos três meses posteriores. A indisposição continuou a subir até bater em 56,1% dos entrevistados, entre janeiro e março de 2004. "Com a queda do índice para 42,6%, neste trimestre, voltamos aos patamares históricos da pesquisa", diz Felisoni.
Campeões de intenção
Dos 57,4% de consumidores que declararam intenção de comprar algo nos próximos meses, 20,6% citaram itens de cama, mesa e banho. A linha branca aparece em segundo lugar, com 17,6% das intenções. Em seguida, vêm os eletroeletrônicos (13,5%), móveis (12,7%), materiais de construção (8,1%), informática (5,6%), automóveis (3,7%), foto e ótica (2,7%) e autopeças (1,2%). A somatória das porcentagens, mais os 42,6% de entrevistados que não desejam comprar nada, supera 100% porque foi permitido aos consumidores citar mais de um item que pretendem adquirir.
A sazonalidade é a principal explicação para a liderança dos produtos de cama, mesa e banho. Para os demais, Felisoni explica que a queda do desemprego e a taxa de juros menor estimulam os consumidores. "As pessoas decidem suas compras com base em razões limitadas. Vale mais a sensação de que as variáveis como juros e desemprego estão em queda, do que o impacto real desses fatores sobre o orçamento familiar", diz.
Por isso, Felisoni afirma que é preciso ter cautela sobre os desdobramentos dessa maior intenção de compra para o próximo trimestre. Mal calculados, as compras podem pesar sobre o orçamento familiar e aumentar a inadimplência. Segundo Felisoni, os indicadores demonstram claramente a melhora da economia e do ânimo dos compradores, mas há dúvidas quanto à sustentação desse crescimento.
Gastos e renda
Tais dúvidas aumentam quando se constata que a maioria das pessoas, conforme a pesquisa da FIA, pretendem adquirir bens duráveis e semiduráveis por meio de financiamento. Para quatro segmentos (eletroeletrônicos, móveis, linha branca e automóveis), mais de 80% dos consumidores afirmam que recorrerão ao crediário para efetuar suas compras. No segmento de automóveis, o índice sobe para 93,3%, por exemplo. A preocupação é menor para os demais setores. No segmento de informática, o crediário deve representar 17,4% das compras. Em cama, mesa e banho, o índice chega a 48,8%.
O recurso ao crédito também reflete a intenção de o consumidor gastar mais com cada item. De fato, na comparação com a intenção de gastos no segundo trimestre, todos os segmentos apresentaram alta. Na linha branca, o incremento foi de 89,9%, ou seja, a intenção de gastos, que era de 493,15 reais por consumidor, passou para 936,38 reais para os próximos três meses. No setor de materiais de construção, o avanço foi ainda maior: 247,3%, pulando de 509,17 reais entre abril e junho, para 1 768,18 reais até setembro.
O problema, conforme Felisoni, é a baixa capacidade de endividamento dos consumidores. Nesta edição, a FIA introduziu um novo indicador na pesquisa, a fim de apurar a disponibilidade de renda dos paulistanos. A conclusão é que, embora queiram consumir mais, os indivíduos vêem sua renda comprometida com outros itens, como habitação, alimentação e transporte. Apenas 15,6% da renda dos entrevistados irá para o item "outras despesas". E, deste percentual, apenas metade (cerca de 8%) será usado em compras de duráveis e semiduráveis. O restante dos 15,6% irá para gastos com tarifas públicas, como água, luz e telefone.
Em termos práticos, isso significa que menos de 100 reais por consumidor estará livre para compras de duráveis e semiduráveis nos próximos meses. O cálculo baseia-se no salário médio dos entrevistados (766 reais por mês).