Patricia Mosser, da Universidade de Columbia (UM BRASIL/Reprodução)
João Pedro Caleiro
Publicado em 25 de janeiro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 25 de janeiro de 2018 às 06h00.
São Paulo - Consistência, clareza e comunicação: estes são os três elementos que fazem com que um Banco Central tenha credibilidade.
A receita foi dada por Patricia Mosser em entrevista da UM Brasil antecipada com exclusividade para EXAME.
"A credibilidade no universo dos bancos centrais, assim como em outras coisas na vida, é algo difícil de conseguir e fácil de perder", diz ela.
Professora e pesquisadora da Escola Internacional de Políticas Públicas da Universidade de Columbia, Mosser trabalhou por mais de 20 anos no Federal Reserve e é especialista em bancos centrais.
Segundo a professora, a experiência de outros países foi "útil" para a atual diretoria do Banco Central do Brasil no processo que levou a inflação para abaixo do piso da meta pela primeira vez.
Ela comparou o desafio que o Brasil enfrentou com o dos Estados Unidos nos anos 80, quando o país experimentou uma inflação muito alta e uma recessão profunda ao mesmo tempo.
A entrevista com a jornalista Thais Heredia foi gravada em dezembro, quando Mosser participou do fórum “A Mudança do Papel do Estado – Estratégias para o Crescimento”.
O evento foi realizado pela UM BRASIL, uma iniciativa da Fecomercio SP, com a parceria do Columbia Global Centers do Rio de Janeiro, um braço da Universidade Columbia, de Nova York.
Mosser destaca que os bancos centrais, além de perseguir uma inflação estável sem gerar grandes flutuações de atividade e desemprego, também têm entre seus objetivos manter a estabilidade financeira.
"Quase todos os bancos centrais, por exemplo, em casos de emergência, podem fazer empréstimos de emergência para bancos e instituições financeiras", diz ela.
No entanto, o foco real neste objetivo "é algo que vai e vem", com risco de complacência das instituições quando os outros indicadores parecem saudáveis.
E a independência formal, é pré-requisito para um Banco Central ter credibilidade? Mosser relativiza:
"Por mais surpreendente que seja, a resposta varia bastante ao redor do mundo. O Brasil não está sozinho em ter um acordo, digamos assim, com o governo ao invés de uma lei formal".
Ela nota que mesmo uma independência formal não significa que o BC não responde ao público, e sim que ele tem metas de política colocadas por lei. A independência é dos meios para atingir as metas.
"Um sistema de freios e contrapesos é sempre necessário, claro. Às vezes eu tenho medo que a palavra 'independência' dê a impressão de que o Banco Central pode fazer o que quiser, e isso obviamente não é o que queremos dizer", diz ela.
Veja a entrevista na íntegra: