Economia

Consignado CLT tem inadimplência em um terço das empresas, diz Serasa

Segundo a pesquisa, a maioria dos casos acontece por erros sistêmicos ou operacionais, como atrasos de informação entre o RH e a instituição financeira

Consignado CLT: mercado espera ajuste nas taxas de juros nos próximos dois anos (Erlon Silva/TRI Digital/Getty Images)

Consignado CLT: mercado espera ajuste nas taxas de juros nos próximos dois anos (Erlon Silva/TRI Digital/Getty Images)

Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 08h26.

Um terço das empresas que aderiram ao programa Crédito do Trabalhador registrou episódios de inadimplência desde março, quando a iniciativa foi lançada. O dado é resultado de um estudo do Serasa Experian com 550 organizações.

O programa foi criado para simplificar o acesso ao crédito consignado privado para trabalhadores CLT, domésticos, rurais, de aplicativos e Microempreendedores Individuais (MEI).

O levantamento aponta que 46% das companhias ainda não conhecem ou não sabem detalhar o funcionamento da nova modalidade.

Entre as 297 empresas que já estão familiarizadas com a plataforma, apenas 25,8% afirmam conhecer bem o programa. Outras 28,2% dominam apenas o básico. As companhias de médio porte relatam mais problemas, seguidas pelas pequenas (28,6%) e pelas grandes (24,3%).

A inadimplência é maior no Nordeste (42,1%) e no Sudeste (33,3%). Por setor, indústria (38,6%) e varejo (48%) concentram a maior parte dos casos.

Erros de sistema respondem pela maioria dos casos

Segundo as empresas, a maior parte dos problemas está ligada à plataforma, e não à incapacidade de pagamento dos funcionários.

De acordo com a pesquisa, 65% dos episódios de inadimplência decorrem de falhas operacionais ou sistêmicas. Entre os principais pontos citados estão atrasos de informação entre o RH e a instituição financeira (30%), falhas de integração com o eSocial/Dataprev (22%) e problemas no desconto em folha (13%).

Outros 33% dos casos se referem a dificuldades de pagamento por parte do trabalhador.

Desafios operacionais

Até o lançamento do programa, o consignado privado dependia de convênios diretos entre empresas e bancos. Era o empregador quem definia regras como data de corte da folha, repasses e conciliação.

Com o novo modelo, os bancos aderem ao sistema e o trabalhador solicita o crédito pela Carteira de Trabalho Digital, escolhendo onde contratar. A empresa é notificada para fazer o desconto, limitado a 35% do salário.

Para que o fluxo funcione, as empresas precisam ter alimentado o Emprega Brasil com informações necessárias para que elas sejam escrituradas no eSocial. As instituições financeiras só acessam esses dados via Dataprev.

"O RH passa a ter um conjunto de obrigações gigantesco, com muitas rotinas operacionais. Os gestores precisam conhecer profundamente a folha de pagamento, saber o dia de corte, buscar a conciliação, pagar as guias do consignado. Muda muito a rotina do RH", diz Délber Lage, CEO da Salaryfits, empresa da Serasa, ao Globo.

Outro ponto de complexidade é que qualquer banco pode ofertar crédito a qualquer empresa. Um estudo da empresa indica que 67% dos novos empréstimos foram feitos por instituições que nunca haviam se relacionado com aquela companhia, ampliando o número de transações e de participantes do sistema.

Juros avançam em meio à adaptação ao novo modelo

As dificuldades operacionais também ajudam a explicar o comportamento dos juros nesta fase inicial. Dados do Banco Central mostram que, em março, o consignado privado tinha taxa média de 44% ao ano. Em outubro, o percentual subiu para 59%.

Com a ampliação do acesso, trabalhadores que antes não tinham consignado passaram a contratar crédito, muitos com score baixo. Uma pesquisa anterior do Serasa mostra que 44% dos novos tomadores tinham score 400 ou inferior.

Lage afirma que os bancos têm calibrado juros maiores diante do desconhecimento sobre perfis de empresas e empregados com os quais nunca haviam se relacionado. Ele aponta uma combinação de risco mais alto, falhas operacionais e custo da assimetria de informação.

Apesar disso, o executivo avalia que, em 12 a 18 meses, o sistema deve funcionar com mais eficiência, o que tende a corrigir as taxas. A expectativa é que o mercado segmente perfis de empresas e trabalhadores, aplicando juros diferentes conforme o risco.

A regularização do FGTS como garantia, ainda pendente de definição pelo governo, também deve reduzir a exposição ao risco.

*Com informações do Globo

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