Economia

Conheça o "Trueque", que faz a Venezuela voltar no tempo

Na Venezuela o intercâmbio de mercadorias está sendo realizado até mesmo via Facebook e Twitter


	Prateleira em mercado da Venezuela tinha papel higiênico, mas ficou vazia
 (Jorge Silva / Reuters)

Prateleira em mercado da Venezuela tinha papel higiênico, mas ficou vazia (Jorge Silva / Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2015 às 06h00.

São Paulo - Além da crise política entre governo e oposição, a desvalorização do bolívar levou a Venezuela a uma crise econômica crítica, cujas consequências já estão presentes no cotidiano das pessoas. 

Os venezuelanos tiveram que voltar aos primórdios da economia e agora realizam uma espécie de escambo, chamado de “trueque”, um intercâmbio de objetos sem envolver dinheiro.

A forma de comércio é o jeito que a população encontrou para conseguir driblar as longas filas e os preços exorbitantes de alimentos e produtos higiênicos. 

Na hora da necessidade, vale tudo. Redes sociais como o Facebook e o Twitter, por exemplo, têm sido utilizadas para a realização das trocas. Pessoas postam fotos de produtos que possuem, perguntando se há interessados em trocar por outros.

Mas também há uma troca de informações: vários usuários perguntam onde podem encontrar algum determinado bem ou indicam o lugar onde fizeram uma aquisição recentemente.

É o que acontece no grupo “Trueques Anti-Bachaqueros – Barquisimeto”, criado no Facebook. A página é fechada por motivos de segurança e é administrada por seis pessoas, responsáveis por manter justas as trocas e determinar as normas de publicação.

“Por motivos econômicos, o Facebook chega a mais pessoas do que o Instagram, por exemplo, que precisa de um smartphone para usá-lo e nem todos aqui têm um”, explica uma das administradoras da página, Mary Sands, em entrevista por e-mail.

A venezuelana explicou que o "trueque" se tornou comum no país porque, além da carência de produtos, quando as pessoas vão às compras, “se compra o que se encontra” e não o que se deseja ou realmente precisa. 

“Tem uma grande quantidade de produtos em falta, não só nos supermercados e farmácias, mas também coisas como pneus, produtos de limpeza e até mesmo celulares”, afirmou.

A seguir, veja como uma das usuárias da página realizou o trueque: ela postou uma foto com produtos higiênicos que possuía, como desodorantes, amaciantes e sabonetes, e em troca pedia leite.

 

Pessoa pedindo produtos em página de trueques na Venezuela

No entanto, os membros de grupos de "trueques" precisam tomar cuidado com os chamados “bachaqueros”, pessoas que compram produtos regulados - com preços oficiais - e os revendem a preços bem acima do que é considerado "justo" por lá.

Além de aumentar o tempo nas filas dos supermercados, os "bachaqueros" obtêm um lucro de até 1.000% com a revenda dos produtos regulados. “Nós realizamos essas trocas porque precisamos nos ajudar uns aos outros, sem distinção política”, completou Mary Sands.

Já no Twitter, perfis como “Mami Encontró” ajudam a compartilhar informações sobre os produtos que estão em falta.

“A ideia da conta surgiu porque se tornou difícil a ideia de ser mãe nestes tempos de desabastecimento”, explicou a dona do perfil, Dayimar Ayla, por e-mail. “Faltam fraldas, fórmulas, sabonete, shampoo e remédios”, completou.

Abaixo, uma seguidora do perfil pede informações sobre onde encontrar absorventes em Caracas:

A administradora retuíta os pedidos de seus seguidores para ajudá-los com as informações, mas não realiza o trueque. Mesmo sendo um perfil voltado para os produtos infantis, Dayimar divulga também solicitações de medicamentos e produtos de higiene para adultos. 

“O Twitter é uma ferramenta que alcança quase todo mundo, além de ser em tempo real”, afirmou a administradora do perfil.

O grupo de amigos que criou a conta “Del mercado encontré”, também no Twitter, concorda com Dayimar Ayla.

“Vi que muitas pessoas escreviam para informar-se sobre os produtos, mas não existia uma conta específica, por isso resolvi criar”, contou por e-mail um dos administradores, que prefere não se identificar. O perfil funciona apenas para a população de Caracas, capital da Venezuela. 

A seguir, uma usuária do Twitter pede informações sobre absorventes, condicionador de cabelo e café em Caracas:

Com grupos também no WhatsApp, os administradores do "Del mercado encontré" se comunicam para saber onde encontrar determinados produtos e publicam as informações para ajudar seus seguidores.

Sobre o futuro da Venezuela, o administrador do perfil se diz sem esperança.

E cita uma informação que o deixa entristecido.

"A maioria dos supermercados vendem com um sistema que não nos permite comprar duas vezes a mesma coisa na semana, por exemplo”, completou. 

Acompanhe tudo sobre:AlimentosAmérica LatinaCrise econômicaCrise políticaEmpresasEmpresas americanasEmpresas de internetempresas-de-tecnologiaFacebookInternetRedes sociaisTrigoTwitterVenezuela

Mais de Economia

China e Brasil: Destaques da cooperação econômica que transformam mercados

'Não vamos destruir valor, vamos manter o foco em petróleo e gás', diz presidente da Petrobras

Governo estima R$ 820 milhões de investimentos em energia para áreas isoladas no Norte

Desemprego cai para 6,4% no 3º tri, menor taxa desde 2012, com queda em seis estados