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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h44.
O verdadeiro indutor do consumo não é o crédito, mas a confiança do consumidor. A opinião é de Claudio Felisoni, coordenador-geral da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA-USP) e um dos responsáveis pelos Indicadores de Expectativas de Consumo do Programa de Administração de Varejo (Provar). A má notícia para o comércio é que, além do encarecimento do crédito (decorrente das altas da Selic desde setembro), a confiança dos consumidores paulistanos fraquejou neste início de ano, depois de melhoras contínuas durante 2004 (leia reportagem de EXAME sobre a volta dos brasileiros às compras). De acordo com a pesquisa de expectativas de consumo para o primeiro trimestre de 2005, realizada pelo Provar todo trimestre, a proporção dos moradores de São Paulo que não pretendem comprar entre janeiro e março subiu para 40,8%. Em 2004, essa proporção estava caindo trimestre após trimestre: 56,1% em janeiro, 54,9% em abril, 42,6% em julho e 35,3% em outubro.
Para Felisoni, não é o caso de concluir que o crédito está perdendo força. O quadro é ainda pior. "Eu não diria que a possibilidade de o crédito ampliar consumo se esgotou. Na verdade, ele praticamente não existe em condições favoráveis a um mercado de consumo mais dinâmico", diz o economista. Entre os bens pesquisados (veja tabela), os únicos que escapam da ressaca de ano novo são os eletroeletrônicos, intenção de compra de 12,8% dos 500 entrevistados da cidade de São Paulo.
O outro setor que pode comemorar evolução positiva das intenções é o de automóveis. Entre os pesquisados, 7,4% afirmam planejar a compra de um veículo até março. Isso representa uma alta de 957% em relação ao início do ano passado, quando apenas 0,7% dos entrevistados manifestava essa intenção, e de 57% em relação ao último trimestre de 2004.
Esses casos devem ser vistos com cautela. "O que percebemos é que as recuperações são muito episódicas, devem-se quase que exclusivamente à sensação e não ao que existe de real em melhoria das condições objetivas do mercado de consumo", diz Felisoni. Além disso, o economista argumenta que, embora as taxas básicas de juros tenham caído e depois voltado a subir ano passado, a taxa de juros na ponta do consumo praticamente não se alterou. "O crescimento significativo do consumo em 2004 ocorreu por conta de percepções."
Para que o consumo avance de modo sustentado, Felisoni indica a necessidade de melhora da distribuição de renda e uma taxa de juros mais favorável, "que depende fundamentalmente de spreads menores". Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a participação dos salários no Produto Interno Bruto caiu de 45,1% em 1993 para 35,6% em 2003.
Intenção de compra 1º trimestre de 2005 | ||
4º trim 2004 (%)
|
1º trim 2005 (%)
| |
Linha branca* |
16,2
|
8,2
|
Móveis |
11,5
|
8,4
|
Eletroeletrônicos |
11
|
12,8
|
Material de construção |
13
|
8,4
|
Automóveis |
4,7
|
7,4
|
Informática |
11,5
|
3,8
|
Foto e Ótica |
0,7
|
4,4
|
Cama Mesa e Banho |
21,8
|
6,2
|
Autopeças |
1,5
|
4,2
|
* máquina de lavar, secar, geladeira, lava louça | ||
Fonte: Provar/FIA-USP |