Economia

Como um taxista economiza US$17 mil contrabandeando gasolina

Como um taxista de Aruba faz para economizar US$ 17 mil ao ano? Ele navega 29 km até a Venezuela e volta com mais de 100 galões de gasolina

Frentista aponta para visor de bomba de gasolina em Caracas, Venezuela (Susana Gonzalez/Bloomberg News)

Frentista aponta para visor de bomba de gasolina em Caracas, Venezuela (Susana Gonzalez/Bloomberg News)

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Da Redação

Publicado em 13 de fevereiro de 2015 às 16h01.

Caracas - Como um taxista de Aruba que transporta principalmente turistas americanos pelo Caribe holandês faz para economizar US$ 17.000 ao ano? Ele navega até a Venezuela para comprar o combustível mais barato do mundo.

O taxista, que falou sob a condição de anonimato por estar fazendo algo ilegal, disse que realiza a viagem de 29 quilômetros até a Península de Paraguaná, na Venezuela, pelo menos uma vez por semana, carregando até 104 galões (393 litros) de gasolina venezuelana em vários pequenos recipientes a um custo de US$ 120.

Os US$ 3,09 por galão (US$ 0,81 por litro) após despesas que ele economiza por viagem somam quase US$ 17.000 ao ano.

Na Venezuela, o combustível com 95 octanas custa 0,097 bolívar o litro, a quinta parte de um centavo de dólar americano por galão (medida equivalente a 3,78 litros) se considerada a taxa do mercado paralelo, de 186 bolívares por dólar.

A gasolina custa cerca de US$ 4,24 o galão nos postos de gasolina da Texaco e da Valero em Aruba.

Os preços dos combustíveis na Venezuela, que ostenta as maiores reservas de petróleo bruto do mundo, não foram elevados durante 19 anos depois que os aumentos realizados em 1989 provocaram protestos em todo o país, ajudando a antecipar a ascensão de Hugo Chávez ao poder.

As desvalorizações cambiais e a inflação mais alta do mundo, de 64 por cento, empurraram para baixo o custo dos termos de dólar e desencadearam o contrabando para a Colômbia e outros países caribenhos.

Devido aos problemas de segurança e tributários, o contrabando de combustível da Venezuela por cidadãos locais, inclusive pescadores, “tem a atenção do governo de Aruba”, disse Maria Dijkhoff-Pita, uma alta funcionária do Departamento de Assuntos Econômicos de Aruba.

Nada oficial

Quem leva gasolina venezuelana de barco precisaria pagar taxas e usar recipientes que cumpram as normas, disse ela, por e-mail, em resposta a perguntas.

“Nós suspeitamos que eles tentam entrar com alguns litros de gasolina nos tanques dos barcos, que deveriam ser para uso do barco, mas em vez disso são extraídos dos tanques e colocados em recipientes após a chegada à terra”, disse Dijkhoff-Pita.

O Ministério da Informação da Venezuela e funcionários da produtora estatal Petróleos de Venezuela SA não responderam aos e-mails em busca de comentário a respeito do contrabando de gasolina venezuelana para Aruba.

Oficialmente, o país insular importa 75 milhões a 80 milhões de litros de gasolina por ano e nenhuma gota vem da PDVSA, disse Dijkhoff-Pita.

A Valero Energy Corp., que possui uma refinaria com capacidade para 235.000 barris por dia em San Nicolas, Aruba, ociosa desde setembro de 2012, tem planos de desmantelar a unidade no final deste ano se não surgir nenhum comprador interessado, disse o vice-presidente de Relações com a Mídia da empresa, Bill Day, em 20 de janeiro. A Valero tem sede em San Antonio, EUA.

Enquanto a refinaria continuará operando como um terminal de armazenagem de petróleo e produtos, o governo de Aruba provavelmente continuará importando gasolina para atender a demanda doméstica.

Paraíso turístico

Os bancos offshore e o turismo são os pilares da economia de Aruba. Com a visita de mais de 1,5 milhão de turistas por ano, três quartos vindos dos EUA, o turismo representa mais de 80 por cento da atividade econômica do país, segundo dados do CIA World Factbook.

As exportações de petróleo representam 96 por cento das divisas estrangeiras da Venezuela. A PDVSA, que tem sede em Caracas, somou US$ 15,2 bilhões em despesas não recuperáveis e custos em 2013 para manter o subsídio ao combustível doméstico no país.

A demanda doméstica por combustível continua aumentando porque os motoristas têm pouco incentivo para mudar os hábitos de consumo.

A maior queda nos preços do petróleo bruto desde 2008 aumentaram o temor de que a Venezuela possa decretar o calote das dívidas em dólares em um momento de queda das reservas em moeda estrangeira e de retração da economia.

A redução dos subsídios à gasolina é uma das opções estudadas pelo governo para ajudar a reduzir o déficit no orçamento.

Anúncios televisivos do governo venezuelano ressaltam que o custo para produção da gasolina é 35 vezes maior que os atuais preços na bomba.

Nem mesmo o fim dessa diferença seria suficiente para interromper o contrabando aos países vizinhos, disse Carlos Rossi, presidente da EnergyNomics, em entrevista, de Caracas, em 6 de fevereiro.

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