Economia

Como o iPhone impulsiona o déficit comercial dos EUA

Grande desequilíbrio comercial existe em grande parte por causa de produtos tecnológicos e elétricos, o maior item de importação dos EUA da China

iPhone: smartphone da Apple ilustra como uma grande parte desse desequilíbrio se deve às importações de produtos de marcas norte-americanas (Lucas Agrela/Site Exame)

iPhone: smartphone da Apple ilustra como uma grande parte desse desequilíbrio se deve às importações de produtos de marcas norte-americanas (Lucas Agrela/Site Exame)

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Reuters

Publicado em 21 de março de 2018 às 17h41.

Xangai - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usa muitas vezes seu iPhone para tuitar sobre superávit comercial da China 375 bilhões de dólares com os Estados Unidos. Mas um olhar mais atento ao smartphone da Apple revela como montante que ganha as manchetes é distorcido.

O grande desequilíbrio comercial - no centro de uma potencial guerra comercial com Trump prevendo impor tarifas sobre as importações chinesas nesta semana - existe em grande parte por causa de produtos tecnológicos e elétricos, o maior item de importação dos EUA da China.

O iPhone da Apple, no entanto, ilustra como uma grande parte desse desequilíbrio se deve às importações de produtos de marcas norte-americanas - muito dos quais usam fornecedores globais de peças, mas são montados na China e enviados para o mundo.

Dê uma olhada no iPhone X. O IHS Markit estima os componentes do aparelho custam um total de 370,25 dólares. Desse total, 110 dólares vão para a Samsung na Coreia do Sul pelo fornecimento das telas. Outros 44,45 dólares vão para a empresa japonesa Toshiba e para a sul-coreana SK Hynix por chips de memória.

Outros fornecedores de Taiwan, dos EUA e da Europa também recebem sua parte, enquanto a montagem, feita por fabricantes contratados na China, como a Foxconn, representa apenas cerca de 3 a 6 por cento do custo de fabricação.

As estatísticas atuais do comércio, no entanto, contabilizam a maior parte do custo de fabricação nos números de exportação da China, o que levou organizações globais como a Organização Mundial do Comércio a considerar cálculos alternativos que incluem onde o valor é adicionado.

O impacto nos dados de exportação apenas do iPhone pode ser grande.

A Apple enviou 61 milhões de iPhones para os Estados Unidos no ano passado, segundo dados das pesquisas da Counterpoint e IHS Markit, gastando em média 258 dólares para fabricar cada iPhone 7 e 7 Plus.

Usando um cálculo aproximado, isso implica que as séries iPhone 7 adicionaram 15,7 bilhões de dólares ao déficit comercial dos EUA com a China no ano passado, cerca de 4,4 por cento do total. Isso também representa cerca de 22 por cento dos 70 bilhões de dólares em celulares e utensílios domésticos importados da China pelos EUA.

"Com um iPhone, do qual a China é apenas a montadora final, a maior parte do valor (contribuido pela China) é apenas o trabalho e não dos próprios componentes", disse John Wu, analista econômico do instituto de pesquisa norte-americano Information & Innovation Foundation.

Louis Kuijs, chefe de pesquisa econômica da Ásia na Oxford Economics, observa que empresas norte-americanas usando cadeias globais de suprimentos para fabricar produtos na China colocam outras economias no meio de uma guerra comercial.

"Essa é uma razão importante para o atrito comercial entre EUA e China causar 'danos colaterais', especialmente em outras economias asiáticas", disse ele, acrescentando que, em termos de valor agregado, o déficit comercial dos EUA com a China foi de apenas 239 bilhões de dólares no ano passado, 36 por cento menor que o número expostos nas manchetes.

Por sua vez, a Apple respondeu às preocupações de Trump com uma promessa de trazer alguns fornecedores para os Estados Unidos. A empresa disse em janeiro que planeja pagar 55 bilhões de dólares para fornecedores dos EUA este ano.

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