Economia

Como o dólar a R$ 4 prejudica a moeda e reputação do Brasil

O colapso do real é um exemplo de como o Brasil desperdiçou todo o progresso feito na última década

Dólares: o real caiu 60% desde a posse da presidente Dilma (Andrew Harrer/Bloomberg)

Dólares: o real caiu 60% desde a posse da presidente Dilma (Andrew Harrer/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 23 de setembro de 2015 às 20h35.

O colapso do real é um exemplo de como o Brasil desperdiçou todo o progresso feito na última década.

O real caiu à sua menor cotação desde que o Brasil criou a moeda, em 1994, apagando a valorização e a credibilidade duramente conquistadas ao longo do mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula convenceu os céticos que temiam que ele levaria o Brasil a um calote e ajudou a maior economia da América Latina a conseguir seu primeiro grau de investimento da história, tornando-se uma potência entre os mercados emergentes.

Agora, o Brasil está perdendo essas conquistas a um ritmo alarmante, definhando sob a pressão de uma investigação de corrupção que continua se expandindo e de uma recessão que caminha para ser a pior desde a Grande Depressão.

O real caiu 60 por cento desde a posse da presidente Dilma Rousseff, sucessora escolhida a dedo por Lula, em 2011. Nesse período, o Brasil sofreu três rebaixamentos em sua nota soberana, incluindo a decisão da Standard Poor’s de cortar o país de volta ao grau especulativo neste mês.

“Esta é a clássica história do auge ao fundo do poço e a maior parte disso tem origem doméstica”, disse Nicholas Spiro, diretor-gerente da Spiro Sovereign Strategy, de Londres. “O Brasil era uma das oportunidades de investimento mais atraentes e agora sua credibilidade fiscal está em frangalhos”.

O real caiu para R$ 4,1378 por dólar na quarta-feira, o menor nível desde que a moeda foi criada, em 1994.

A queda do real acelerou nos últimos meses em meio aos pedidos de impeachment de Dilma, à crescente oposição no Congresso às medidas de austeridade fiscal e às consequências cada vez maiores de um escândalo de corrupção na Petrobras.

Dilma também teve que enfrentar o colapso dos preços das matérias-primas e a perspectiva do primeiro aumento nas taxas de juros dos EUA desde 2006.

Com Lula, fundador do Partido dos Trabalhadores, o país prosperou, aproveitando o aumento dos preços das commodities. O real subiu 113 por cento enquanto ele esteve na presidência, de 2003 a 2010, a maior alta entre moedas de mercados emergentes.

O mercado de ações atingiu seu pico durante seu último ano no cargo, mesmo com a queda provocada pela crise financeira global em 2008.

Lula aumentou os gastos do governo e os subsídios, medidas que ajudaram a empurrar o desemprego ao seu menor nível na história e a tirar 35 milhões de brasileiros da pobreza ao longo da última década.

Saiu pela culatra

Dilma procurou ampliar essas conquistas aumentando os investimentos em um momento em que a economia começava a perder força.

Mas o tiro saiu pela culatra, pois a iniciativa gerou a inflação mais elevada desde 2003 e inchou a dívida do país.

“O governo vem gastando desde 2011 tentando evitar uma desaceleração da economia”, disse Enestor dos Santos, economista do BBVA em Madri, Espanha.

“Agora vemos uma piora do cenário externo em um momento em que não temos espaço fiscal para implementar políticas anticíclicas. E acima de todos os problemas do país, agora, paira a instabilidade política”.

A assessoria de imprensa de Dilma preferiu não comentar quando questionada por e-mail a respeito das políticas do governo que contribuíram para o enfraquecimento do real.

Frustração dos brasileiros

Apesar de o Brasil estar se tornando mais arriscado no mercado de dívida, os juros dos bonds ainda representam uma fração do nível registrado no início do governo Lula.

Gabriela Souza Dias, agente de viagens de 24 anos, de São Paulo, personifica a frustração sentida por muitos brasileiros.

Ela teme que a desvalorização da moeda e os diversos problemas do Brasil possam fazê-la perder o emprego.

“Isso realmente atrapalha a vida”, disse ela. “Estamos paralisados”.

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