Economia

Como Milei 'se perdeu' dos mercados, mas encontrou saídas no governo Trump

O presidente dos Estados Unidos manifestou nesta terça-feira seu apoio à reeleição de Milei

Javier Milei, presidente da Argentina (Juan Mabromata/AFP)

Javier Milei, presidente da Argentina (Juan Mabromata/AFP)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter

Publicado em 24 de setembro de 2025 às 05h21.

Última atualização em 24 de setembro de 2025 às 10h40.

Há seis meses, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, estava em Buenos Aires parabenizando o presidente Javier Milei por "trazer a Argentina de volta do precipício". O presidente portenho garantia, assim, mais de US$ 40 bilhões em empréstimos do FMI e de credores multilaterais para fortalecer sua administração.

Com a recente derrota na eleição em Buenos Aires e tropeços econômicos que estão gerando incertezas nos mercados, o governo de Donald Trump prepara-se para socorrer seu aliado mais uma vez.

Bessent anunciou na segunda-feira que o governo Trump "está pronto para fazer o que for necessário" para apoiar a Argentina e que "todas as opções de estabilização estão sobre a mesa", segundo reportagem do Financial Times.

Cortes profundos

Milei foi eleito sob uma plataforma de cortes profundos nos gastos públicos visando equilibrar o orçamento. No quesito da inflação, a situação mudou bastante. Em abril do ano passado, os argentinos tiveram uma inflação de 289%. Em agosto deste ano o número foi de 34%.

Segundo especialistas, essa visão de Javier Milei de manter a inflação baixa a todo custo, com o peso artificialmente alto, prejudicou o crescimento da economia. Assim, o país não conseguiu acumular o estoque de dólares suficientes para pagar sua dívida externa.

O choque de realidade veio em 7 de setembro, quando os aliados de Milei foram derrotados nas eleições locais da província de Buenos Aires - que tem mais de um terço dos eleitores do país e é uma espécie de termômetro para o que os argentinos podem esperar para as eleições nacionais de meio de mandato marcadas para outubro.

Problemas no governo

Os mercados, de certa forma, já estavam instáveis depois do escândalo de corrupção envolvendo Karina Milei, irmã e chefe de gabinete do presidente e uma série de medidas que prejudicaram o crescimento do PIB, como o aumento na taxa de juros.

O peso despencou quase 10% em duas semanas, atingindo o piso da banda cambial adotada em abril, quando Milei relaxou os controles cambiais da Argentina após conseguir um empréstimo de US$ 20 bilhões com o FMI.

De acordo com o FT, investidores passaram a temer que o governo teria que abandonar a banda e desvalorizar o peso, agravando a demanda por dólares e acelerando a corrida à moeda. O banco central do país gastou US$ 1,1 bilhão em três dias na semana passada para sustentar a moeda.

O movimento irritou detentores de títulos argentinos, que enxergaram a possibilidade da Casa Rosada "queimar" as poucas reservas cambiais que tinha e que poderiam ser usadas para pagar dívidas. Com isso, os preços dos títulos caíram.

Alerta do FMI e alívio

O FMI já havia alertado no final de julho que as reservas do país haviam caído para mais de US$ 6 bilhões no vermelho após não atingir uma série de metas.

O presidente argentino ganhou um alívio na segunda-feira, com a intenção de apoio de Bessent que acalmou (um pouco) os mercados.

Milei anunciou a eliminação temporária dos impostos sobre exportações agrícolas, incentivando o setor a vender parte de safras estocadas, ampliando o acesso do Banco Central a dólares.

De acordo com o Financial Times, o Fundo de Estabilização Cambial dos EUA, que Bessent afirma poder ser utilizado para ajudar Buenos Aires, tem mais de US$ 200 bilhões em ativos. A maioria deles, porém, não de fácil acesso, o que deve pedir mais negociação do lado argentino.

Trump elogia Milei e apoia reeleição do argentino

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manifestou nesta terça-feira, 23, seu apoio à reeleição de Javier Milei. O atual mandato do líder libertário tem término previsto para 2027.

"O altamente respeitado presidente da Argentina, Javier Milei, provou ser um Líder verdadeiramente fantástico e poderoso para o grande povo da Argentina, avançando em todos os níveis em velocidade recorde", afirmou Trump.

O presidente americano também criticou o antecessor de Milei, o ex-presidente Alberto Fernández, e afirmou que ele herdou um cenário de "bagunça total" ao assumir o governo.

Acompanhe tudo sobre:ArgentinaJavier MileiDonald TrumpFMI

Mais de Economia

IPCA deve permanecer elevado e Selic em patamar alto, alerta BC

Prévia da Inflação: IPCA-15 volta a acelerar e fica em 0,48% em setembro

Após decisão do TCU, Haddad diz que continuará perseguindo meta fiscal

Senado adia votação de segundo projeto de regulamentação da Reforma Tributária