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João Pedro Caleiro
Publicado em 3 de abril de 2014 às 14h07.
São Paulo – Na manhã desta quinta-feira, Sérgio Cabral (PMDB) deve entregar sua carta de renúncia e deixar o governo do estado do Rio de Janeiro após 7 anos e 3 meses de mandato.
A manobra é uma forma de colocar em evidência Luiz Fernando Pezão, seu vice, que assume no seu lugar e deve se candidatar em outubro – a contragosto do PT, que lançou Lindbergh Farias como candidato próprio.
Cabral era um dos governadores mais mal avaliados do país: só 18% dos habitantes do estado consideram sua gestão boa ou ótima, de acordo com pesquisa da CNI de dezembro passado.
Os números são uma prova de que nem sempre “é a economia, estúpido” (expressão que ilustrava a principal razão para a reeleição de Bill Clinton nos EUA).
Cabral foi afetado por suas trapalhadas e não soube navegar a onda de insatisfação que se seguiu aos protestos de junho, mas governou com arrecadação em alta, crescimento econômico e um boom de investimentos. Hoje, o Rio de Janeiro é o estado que mais investe no país.
Maré perfeita
Em 2007, o Brasil foi confirmado como sede da Copa do Mundo de 2014 e a Petrobras anunciou a descoberta dos campos do pré-sal. Em 2009, o Rio de Janeiro foi escolhido para receber as Olimpíadas de 2016.
Alguns meses depois, já em 2010, a agência de rating Standard & Poor’s concedeu ao Rio de Janeiro o grau de investimento, que indica baixa possibilidade de calote.
Era a primeira vez que isso acontecia com qualquer unidade da federação, um reconhecimento das iniciativas de Cabral em tornar o Orçamento mais organizado e transparente. Desde 2011, a Economist Intelligence Unit (EIU) considera o estado o segundo melhor do país em termos de gestão, atrás apenas de São Paulo.
A visibilidade da capital, recursos garantidos do governo federal, o boom do petróleo e a gestão fiscal respeitada formaram uma espécie de maré perfeita para os planos de Cabral.
Em 2011, o estado já ostentava o curioso título de lugar com maior concentração territorial de investimentos do mundo: R$ 4 milhões por quilômetro quadrado.
Os investimentos nos três anos entre 2012 e 2014 saltaram 67% em relação aos três anos anteriores. Só em 2013, foram R$ 110 bilhões (somando público e privado). Mais da metade do investimento da Petrobras está focada no estado, o que corresponde a US$ 120 bilhões no período entre 2013 e 2018.
Crescimento e participação
De acordo com estudo do Itaú Unibanco, a economia fluminense cresce mais que a brasileira: 4,4% em 2011 (contra 2,7% do país) e 2,5% em 2012 (contra 0,9%).
O banco projeta que esta situação vai se manter nos próximos anos, o que deve aumentar a importância relativa do estado no PIB do país.
Em 2011, o Rio de Janeiro era responsável por 11,2% do PIB brasileiro, a mesma taxa de 1995 e uma ligeira queda em relação aos 11,6% registrados em 2006.
Como segundo estado mais rico da federação e diante do crescimento acelerado do Nordeste, a própria manutenção das taxas é notável. São Paulo, por exemplo, perdeu quase cinco pontos percentuais de participação entre 1995 e 2011 (de 37,3% para 32,6%).
Reveses
Nem tudo são flores, porém, no (ex)-reino de Cabral. Sua política de segurança, baseada nas UPPs, foi uma das grandes responsáveis pela onda de otimismo com o estado, mas a brutalidade policial e um novo aumento no número de homicídios arriscam manchar esse legado.
Em 2013, o Rio de Janeiro registrou seu primeiro déficit comercial desde 2003, e a queda nos embarques de petróleo fez o estado passar da 3ª para a 4ª posição entre os maiores exportadores (em 2000, estava no 9º lugar).
Apesar da arrecadação em alta, o aumento dos investimentos também começa a pressionar a dívida pública. O Rio de Janeiro teve o maior déficit absoluto de todos os estados brasileiros em 2013: R$ 4,7 bilhões, o equivalente a 0,88% do PIB estadual.