Economia

Como a vitória de Milei pode afetar o mercado de carros no Brasil?

Novo presidente argentino critica o Mercosul e defende rever regras que hoje favorecem produtos brasileiros

Javier Milei: candidato quer rever regras de comércio exterior (Luis Robayo/AFP)

Javier Milei: candidato quer rever regras de comércio exterior (Luis Robayo/AFP)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 22 de novembro de 2023 às 15h04.

Última atualização em 22 de novembro de 2023 às 15h28.

A vitória de Javier Milei nas eleições da Argentina pode ter efeitos nas montadoras e no mercado de veiculos do Brasil. O país é um dos principais fornecedores de carros para a Argentina, e vice-versa, e o novo presidente promete abrir o mercado argentino e rever regras de comércio exterior.

A troca de produtos entre os dois países é facilitada pelo Mercosul: de um lado, os negócios entre países do bloco são facilitados pelo acordo comercial, assinado em 1995. De outro, há uma tarifa externa comum (TEC), que dificulta a importação de produtos de fora da região.

Durante a campanha, Milei fez ataques ao Mercosul e defendeu diversas vezes o livre comércio entre os países, o que na prática pode significar a queda de barreiras comerciais que, muitas vezes, dão preferência a produtos brasileiros na Argentina. Sem essas regras, outros países, como a China, poderiam vender carros no país vizinho a preços menores, o que aumentaria a competição e poderia reduzir o mercado tanto para fabricantes argentinos quanto brasileiros.

"A vitória de Milei poderá trazer riscos para o comércio bilateral do Brasil com o país. Mesmo que não cumpra a ameaça de sair do Mercosul a Argentina não deverá colaborar para facilitar acordos que procurem melhorar os canais de comércio de bens e serviços na região", diz o boletim Icomex, da FGV, divulgado na terça. 21.

A Argentina é o maior fornecedor externo de carros para o Brasil: em 2022, o país comprou o equivalente a US$ 4,6 bilhões em automóveis do país vizinho, de um total de US$ 6,1 bilhões em importações. Já em autopeças, foi trazido US$ 1,04 bilhão em mercadorias, de acordo com dados da Anfavea, associação que reúne as montadoras brasileiras.

Já a exportação de veículos para a Argentina vem caindo. Em 2017, foram vendidos US$ 7,1 bilhões em produtos brasileiros lá. Em 2022, esse número caiu para US$ 1,8 bilhão. Já em autopeças, foram fornecidos US$ 2,9 bilhões em mercadorias.

"Os mercados automotivos brasileiro e argentino são complementares e até certo ponto interdependentes, tanto no comércio de veículos como no de peças e equipamentos. A Argentina é um dos principais parceiros comerciais do Brasil no setor e ao longo dos anos as nossas relações comerciais foram aperfeiçoadas chegando aos atuais importantes patamares de volumes", disse a Anfavea, em nota.

A entidade não quis comentar os possíveis riscos trazidos por Milei, e disse avaliar que "esse fluxo deve continuar a ser fortalecido e incrementado, beneficiando os dois países e as demandas de seus respectivos mercados".

Perder mercado na Argentina pode dificultar ainda mais a vida de montadoras no Brasil. O setor passa por um momento de transição e de fechamento de fábricas. Marcas como a Ford deixaram de produzir no país, enquanto montadoras chinesas, como GWM e BYD, anunciaram investimentos em plantas aqui.

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