Economia

Como 3 vencedores do Nobel votariam no referendo da Grécia

Nesta segunda-feira, três vencedores do Nobel opinaram publicamente sobre o caminho menos pior para a Grécia diante da crise atual - e nem eles concordam

Paul Krugman, Joseph Stiglitz e Christopher Pissarides, três vencedores do prêmio Nobel de Economia (Bloomberg/AFP/EXAME.com)

Paul Krugman, Joseph Stiglitz e Christopher Pissarides, três vencedores do prêmio Nobel de Economia (Bloomberg/AFP/EXAME.com)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 30 de junho de 2015 às 13h30.

São Paulo - Os próximos dias irão definir, em grande medida, o futuro da Grécia e de todo o projeto do euro.

O país já está vivendo sob controle de capitais para evitar uma sangria bancária e deve dar o calote em uma dívida com o Fundo Monetário Internacional que vence hoje.

Um referendo foi marcado para o próximo domingo para perguntar se a população aceita um novo acordo de austeridade com os credores. Se o "sim" vencer, cai o governo. Se vencer o "não", fica difícil imaginar o país continuando no euro.

Enquanto isso, propostas alternativas flutuam e economistas entram no debate sobre o impasse - entre eles, vencedores do Prêmio Nobel de Economia. 

Recentemente, Amartya Sen publicou um artigo sobre a "miopia" da elite política europeia diante das consequências de uma austeridade implacável.

Nos últimos dias, Paul Krugman e Joseph Stiglitz, velhos críticos da política europeia na crise grega, defenderam que o "não" no referendo pelo menos traria alguma luz no fim do túnel. Já Christopher Pissarides defende um "sim retumbante".

Veja o que eles têm dito:

(Getty Images)

Paul Krugman, vencedor do prêmio Nobel em 2008, em coluna no New York Times:

"A maior parte - não tudo, a maioria - do que você ouviu sobre desregramento e irresponsabilidade grega é falso. Sim, o governo grego estava gastando além da sua capacidade no final dos anos 2000. Mas desde então ele repetidamente cortou gastos e aumentou impostos (...) Se você juntar todas as medidas de austeridade, elas foram mais do que suficientes para eliminar o déficit original e o transformar em um grande superávit. E por que isso não aconteceu? Porque a economia grega colapsou, em grande parte devido a esta mesma austeridade, derrubando as receitas com ela"

(...)

"Não seja levado pelas alegações de que os oficiais da troica são apenas tecnocratas explicando aos gregos ignorantes o que deve ser feito. Estes supostos tecnocratas são na verdade fantasistas que desconsideraram tudo que sabemos sobre macroeconomia, e estiveram errados em cada passo do trajeto. Isso não é sobre análise, é sobre poder - o poder dos credores de abrir o ralo na economia grega, que persistirá na medida em que uma saída do euro seja considerada impensável. Então está na hora de colocar um fim nesta impensabilidade. De outra forma, a Grécia terá austeridade sem fim, e uma depressão sem perspectiva de final." 

  (Chris Hondros/Getty Images)

Joseph Stiglitz, vencedor do prêmio Nobel em 2001 junto com George A. Akerlof e A. Michael Spenc, em artigo no Project Syndicate:

"De fato, mesmo que a dívida da Grécia seja reestruturada além do imaginável, o país continuará em depressão se os votantes se comprometerem com a meta da troica no referendo surpresa a ser realizado no fim de semana. Em termos de transformar um déficit primário enorme em um superávit, poucos países conseguiram qualquer coisa parecida com o que os gregos fizeram nos últimos 5 anos"

(...)

"Devemos ser claros: quase nada do montante enorme de dinheiro emprestado para a Grécia foi de fato para lá. Ele foi para pagar credores do setor privado - incluindo bancos franceses e alemães. A Grécia pegou apenas uma miséria, mas pagou um preço alto para preservar o sistema bancário destes países (...) Mas novamente, não é sobre dinheiro. É sobre usar prazos para forçar a Grécia a se ajoelhar e aceitar o inaceitável - não apenas medidas de austeridade, mas outras políticas regressivas e punitivas"

(...)

"Um voto no 'não' pelo menos abriria a possibilidade de que a Grécia, com sua forte tradição democrática, poderia agarrar seu destino em suas próprias mãos. Os gregos poderiam ganhar a oportunidade de moldar um futuro que, apesar de talvez não tão próspero como no passado, tem muito mais esperança do que a tortura injusta do presente. Eu sei como eu votaria."

  (Simon Dawson/Bloomberg)

Christopher Pissarides, vencedor do prêmio Nobel em 2010 com Peter A. Diamond e Dale T. Mortensen, em entrevista para a rede alemã Deutsche Welle

"Toda a questão foi obviamente mal gerida pelo governo grego e foi assim que acabamos nessa situação. Espero que o voto no referendo seja um retumbante "Sim" - apesar das pesquisas de opinião não mostrarem isso - apenas para mostrar que os gregos querem ficar no euro e querem sentar na mesa de negociações e achar algo realizável para o benefício tanto da Europa quanto da Grécia."

(...)

"Não estou dizendo que as sugestões alemãs para a Grécia, que eles chamam de institucionais, estão corretas. Na verdade, acho que os gregos deveriam ter negociado fortemente contra algumas medidas - contra os impostos mais altos, contra a austeridade. Mas existe uma diferença entre o que você propõe e a forma com que você está negociando"

(...)

"O que vimos é a parte institucional da Europa, com o apoio da Alemanha, insistindo em certas políticas que não são necessariamente boas para a Grécia e os gregos agindo de forma casualística, às vezes dizendo "Não" para isso ou para aquilo, daí pausando por vários semanas sem dizer nada e voltando para a mesa dizendo que querem outra coisa ou adiamentos. É isso que eu chamo de má administração."

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