Roberto Azevedo, diretor da OMC: "Temos que levar em conta que a Europa representa um terço do comércio mundial, portanto o que afeta a Europa afeta o resto" (Fabrice Coffrini/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2015 às 12h26.
Genebra - O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo, prevê uma revisão para baixo dos dados sobre trocas comerciais em 2015 e suas estimativas para 2016.
"Acho que deveremos revisar para baixo as estimativas sobre crescimento do comércio, porque a economia mundial não está crescendo, e o comércio normalmente segue a mesma tendência que a economia", afirmou Azevêdo em um encontro com a imprensa.
O diretor-geral explicou que apesar do "panorama ser misto", com países como os Estados Unidos crescendo de forma brilhante, a União Europeia e o Japão não apresentam as mesmas características.
"Temos que levar em conta que a Europa representa um terço do comércio mundial, portanto o que afeta a Europa afeta o resto", ponderou.
Em relação aos países emergentes, o diplomata brasileiro citou o exemplo da Índia, que cresce com dinamismo, e a China no lado oposto, por ter índices invejáveis, mas no menor ritmo dos últimos 25 anos.
"Há quem diga que estes níveis de crescimento da China estão para ficar. Precisamos ver ainda se é só uma tendência ou um ciclo", ponderou.
No final do ano passado, a OMC estimou que o crescimento das exportações em 2015 se situariam em tímidos 4%, o que já era uma revisão de uma estimativa inicial de 5,3%.
Os novos dados serão divulgados em 14 de abril.
Se o percentual for ainda menor, o crescimento comercial reduzirá consideravelmente a média das últimas duas décadas, de 5,2% ao ano.
Em 2014, a expansão comercial foi de 3,1%.
Paralela à estagnação dos números está a negociação do processo de liberalização comercial conhecido como a Rodada de Doha, que começou em novembro de 2001 e está estagnada desde julho de 2008.
Sem querer ser pessimista, ao contrário, bastante otimista, Azevêdo disse que os 160 membros do organismo estão envolvidos em um "um ativo processo de troca de pontos de vista".
"Até o final do ano passado os membros estavam mais concentrados em reiterar suas preocupações. Isso agora mudou, e estão sugerindo novas perspectivas, indo de uma situação de identificação de problemas a uma de buscar soluções".
Mas assumiu que ainda há muito a negociar: "que estejam discutindo não quer dizer que estejam convergindo".
Os membros têm até julho para definir um cronograma de trabalho sobre a Rodada de Doha.
Consultado se vão conseguir um acordo para essa data, Azevêdo não quis responder argumentando que não faz futurismo, mas destacou sua confiança de que os membros saberão cumprir com sua agenda auto-imposta.