Economia

Com Temer na berlinda, como fica a economia?

Mercado financeiro teve dia de pânico e economistas preveem paralisação de reformas e cortes menores nos juros

Presidente do Brasil, Michel Temer, durante lançamento de novo plano para o ensino médio, dia 22/09/2016 (Ueslei Marcelino / Reuters/Reuters)

Presidente do Brasil, Michel Temer, durante lançamento de novo plano para o ensino médio, dia 22/09/2016 (Ueslei Marcelino / Reuters/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 18 de maio de 2017 às 18h35.

Última atualização em 18 de maio de 2017 às 18h56.

São Paulo - O mercado financeiro teve um dia de pânico após a divulgação de denúncias contra Michel Temer na noite da quarta-feira (17).

O jornal O Globo noticiou que Joesley Batista, um dos controladores do frigorífico JBS, gravou o presidente autorizando pagamentos para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso.

O Ibovespa teve a sessão interrompida por 30 minutos logo de manhã, gatilho automático quando a queda ultrapassa 10%.

Foi a primeira vez desde 2008 que isso aconteceu e o índice acabou fechando o dia com queda de 8,83%, a 61.575 pontos.

Já o dólar comercial teve a maior alta em 14 anos (8,15%) e fechou o dia em 3,38 reais.

"O cenário de curto prazo ficará bem complicado. Há muita incerteza em relação ao timing da saída do Temer e especialmente quem vai entrar. Serão dias de câmbio pressionado e a depender do que sair a frente pode acalmar um pouco", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Caso o impeachment ou a renúncia se confirmem, caberá ao Congresso eleger, por via indireta, um novo chefe para o Executivo Federal.

Até que um novo pleito seja realizado, a lei determina que o presidente da Câmara dos Deputados – atualmente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assuma interinamente a Presidência da República.

O prazo para as eleições é de 30 dias a partir da publicação da cassação da chapa. Para se eleger, o candidato precisa receber a maioria absoluta dos votos do Congresso – ou seja, metade mais um.

"O maior prejuízo é a freada dos investimentos. Quem arrisca investir nesse momento de turbulência? E leva a um efeito negativo sobre a dinâmica macroeconômica: a recuperação que já estava fraca deverá continuar um tempo maior. Mas, por enquanto, não creio que isso signifique uma nova queda do PIB neste ano, visto que a alta do dólar está favorecendo o agronegócio e toda sua matriz intersetorial", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings.

Os números de crescimento no primeiro trimestre serão divulgados no dia 01 de junho e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, espera uma alta entre 0,7% e 0,8% em relação ao trimestre anterior.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o IBC-Br, considerado uma "prévia do PIB" registrou crescimento de 1,12% de janeiro a março, na comparação com o trimestre anterior.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta terça-feira apontaram abertura de quase 60 mil vagas de emprego formal em abril, o primeiro resultado positivo para o mês desde 2014.

Os sinais de fim da recessão, que já eram tímidos, devem sofrer um novo abalo com as denúncias, de acordo com economistas.

Na opinião de Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, "quanto mais rápido Michel Temer cair, melhor será para a economia".

O mercado vivia um período de otimismo diante de números melhores do que o esperado na inflação e queda na expectativa de juros futuros.

O Copom se reúne no próximo dia 31 para decidir a taxa Selic e a aposta de bancos como Itaú e Fibra era de uma aceleração no corte do 1 ponto, registrado nas últimas reuniões, para 1,25 ponto.

O mercado agora espera corte menor por dois motivos: câmbio mais alto aumenta a inflação, e o cenário mais benigno dependia do andamento das reformas, que fica agora prejudicado.

"Todo o trâmite da Reforma da Previdência fica paralisado, sem falar nos impactos adicionais em outros políticos, o que torna difícil imaginar as reformas andarem. A única chance seria uma visão de urgência no Congresso de que sem as reformas o país afunda. Mas é difícil imaginar se será possível, dado que o timing já estava muito apertado por conta do calendário eleitoral do ano que vem", diz Vale.

O governo tentou demonstrar normalidade. Temer afirmou a um grupo de parlamentares em audiência hoje que não vai cair, cancelou a agenda do dia e negou sua renúncia em um pronunciamento de tarde.

Romero Jucá (RR), presidente do PMDB e líder do governo no Senado, disse ontem que as reformas são prioridade e continuam:

"A questão é focar na recuperação do Brasil. A reforma trabalhista está caminhando bem aqui bem no Senado, a reforma da Previdência está evoluindo também. Portanto o cronograma das reformas continua".

Em publicação no Facebook, André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, deu uma previsão mais sombria:

"Não haverá reforma da previdência, não haverá reforma trabalhista. O corte da Selic não será de 125 pontos, mas sim de 75. A curva de juros vai "empinar", dólar vai subir e bolsa vai realizar. O Banco Central vai ficar de olho em câmbio e expectativas de inflação como nunca."

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