Economia

Com Selic a 14,25%, taxa de juros no Brasil volta ao mesmo nível de quase 10 anos

Em 2015, os juros foram elevados para combater uma inflação próxima de 10%

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 19 de março de 2025 às 18h56.

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual coloca o Brasil no mesmo patamar de julho de 2015, quando a taxa atingiu 14,25% durante a crise econômica do governo de Dilma Rousseff. O patamar se manteve por 10 reuniões e foi reduzida apenas em agosto de 2016, já no governo Michel Temer.

Naquele período, os juros foram elevados para combater uma inflação próxima de 10%. Em 2015, o país enfrentava uma das maiores recessões de sua história, com uma queda de PIB de 3,8% e uma inflação que fechou o ano em 10,67%.

O aumento dos gastos públicos, em um contexto de disputa presidencial em 2014, e políticas da conter os preços, como os cortes nas tarifas de energia elétrica, tiveram um alto custo. A dívida pública brasileira saltou de 56% para 67,6% do PIB entre 2014 e 2016. Aquele ano também foi marcado por uma grave crise política, que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Hoje, a inflação está menor do que naquela época, em 5,06% nos últimos 12 meses até fevereiro, mas o quadro fiscal se mostra desafiador na avaliação de economistas e do próprio Copom, que cita a dificuldade de um equilíbrio fiscal para subir os juros. A dívida pública é equivalente a 76,1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

O cenário atual, porém, apresenta um fator positivo que não existia em 2015: o crescimento econômico. O PIB do Brasil cresceu 2,9% em 2023 e avançou 3,4% em 2024. Contudo, a crítica central de economistas e do mercado é que esse crescimento foi sustentado por um forte estímulo fiscal, com o aumento de recursos para programas sociais, como o Bolsa Família e o BPC (Benefício de Prestação Continuada), além de uma política de valorização do salário mínimo.

O cenário internacional, por sua vez, também se mostra desafiador e imprevisível, com o governo Donald Trump e sua política tarifária. Em resposta ao aumento das expectativas de inflação, o Copom iniciou o ciclo de alta da taxa de juros, para conter pressões inflacionárias.

Após altas consecutivas de 1 ponto percentual, o Banco Central sinalizou no comunicado desta quarta-feira que deve desacelerar a alta da taxa de juros. No último Boletim Focus, o mercado projetou que a Selic deve terminar o ano em 15%, com expectativa de início do ciclo de queda em 2026, quando a taxa terminaria o ano em 12.50%.

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