Economia

Com ou sem Brexit, ameaça à economia britânica chegou para ficar

Não é que o Reino Unido não esteja trabalhando duro o suficiente, e sim que não esteja trabalhando de forma inteligente o suficiente

Big Ben em Londres: Inglaterra enfrenta onda de contaminação e mortes  (Hannah McKay/Reuters)

Big Ben em Londres: Inglaterra enfrenta onda de contaminação e mortes (Hannah McKay/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 10 de fevereiro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 10 de fevereiro de 2019 às 08h00.

No implacável drama político do Brexit, o fechamento de uma pequena fábrica de rolamentos a 152 quilômetros a oeste de Londres mal foi notada fora da comunidade local.

A perda da fábrica em Stonehouse custará 185 empregos, pouco ao lado dos milhares que, segundo algumas empresas, correm perigo por causa da reviravolta provocada pela saída da União Europeia.

O anúncio de dezembro também não gerou a mesma repercussão política que a recente decisão da fabricante de automóveis japonesa Nissan Motor de abandonar os planos de produzir um modelo no Reino Unido.

Ao encerrar a produção nessa fábrica em 2021, no entanto, a proprietária sueca SKF evidenciou uma tendência perigosa que existe na economia britânica independentemente do que acontecer com o divórcio da UE: a produtividade do país. E a incerteza em relação ao Brexit tornou as empresas cautelosas em investir na automação que poderia ajudar a impulsioná-la.

O problema está no radar de políticos, executivos e formuladores de políticas do banco central há um tempo, mas agora está se tornando mais urgente.

As empresas contemplam um futuro fora do mercado comum europeu enquanto a primeira-ministra, Theresa May, tenta conseguir a aprovação do Parlamento para seu acordo do Brexit, e elas enfrentam uma escolha difícil: modernização ou morte.

Não é que o país não esteja trabalhando duro o suficiente, é mais que não esteja trabalhando de forma inteligente o suficiente. Em média, os trabalhadores franceses trabalharam por 10 por cento menos horas em 2017, mas produziram mais apesar disso.

Isso está agravando uma posição já desanimadora entre os pares. De fato, a SKF afirmou que vai fechar a unidade em Stonehouse e transferir a produção para fábricas na Itália e na França, onde a empresa pode "fazer melhor uso de máquinas e tecnologias de fabricação mais modernas".

Dados compilados pela Federação Internacional de Robótica, um grupo do setor que defende a implantação de equipamentos de automação na fabricação, mostram que o Reino Unido está ficando para trás.

Segundo um indicador chamado densidade de robôs - o número de máquinas automatizadas por 10.000 funcionários -, o país ocupa o 22º lugar no mundo, em linha com a média. A Alemanha está em terceiro lugar, o que ressalta a dimensão do desafio enfrentado pelas ambições dos defensores do Brexit para impulsionar a posição global do Reino Unido.

Os danos causados por esse déficit podem ser observados no histórico de produtividade do Reino Unido, disse Ram Ramamoorthy, pesquisador e supervisor de doutorado do Centro de Robótica de Edimburgo.

"Se o Reino Unido pretende ser competitivo com pares que estão investindo em tecnologia moderna, então terá que fazer isso também", disse ele. "Não estamos em um ponto sem retorno, mas seria preciso um esforço contínuo para mudar as coisas, e isso não acontecerá da noite para o dia."

O Reino Unido tem alguns dos mais fracos crescimentos na produção por hora trabalhada entre os países do Grupo dos Sete. Entre 2010 e 2015, a taxa ficou quase estagnada em 0,2 por cento ao ano, muito abaixo de sua média de longo prazo, de 2,4 por cento entre 1970 e 2007, e abaixo da taxa da França e da Alemanha.

Isso é particularmente preocupante porque a empresa de consultoria McKinsey estima que cerca de 90 por cento do crescimento econômico futuro precisará vir de melhorias na produtividade apenas para manter o ritmo das taxas de crescimento históricas.

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